14/12/2016
Muitas empresas, universidades, ICTs e órgãos de fomento buscam se unir com vontade de inovar, em contraste com a redução de investimentos em inovação nos últimos anos: este foi o quadro revelado pelo evento Conexão Rio 2016 – Debates sobre o ecossistema de inovação e oportunidades de negócios no Rio de Janeiro. Promovido pela Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), o encontro reuniu empresários, pesquisadores, agentes de órgãos governamentais e entidades ligadas ao tema, no auditório do Instituto Nacional de Tecnologia (INT).
Na mesa de abertura, o diretor do INT, Fernando Rizzo, destacou a presença crescente da Anpei no Estado, que assume importante papel de interface entre atores do sistema de inovação. Em seguida, o vice-presidente da Anpei, Luiz Mello, destacou o ano de mudanças no mundo e no Brasil, culminando com a tramitação da PEC 55 (antiga PEC 251) na Câmara dos Deputados. Segundo Mello, a inovação vem sendo prejudicada nesse processo, com um orçamento para Ciência e Tecnologia correspondendo de 30 a 40 por cento do orçamento inicial, o que equivale ao patamar de investimentos de oito anos atrás.
Luiz Melo apresentou ainda programas estratégicos da Anpei, como o Anpei Exchange e o Programa iTec.
Na sequência, o diretor da Anpei, Raimar van den Bylaardt, falou sobre atividades do núcleo do Rio de Janeiro, que atua desde 2012 no intuito de trazer as questões do estado para a pauta de discussões da Associação. Raimar fez ainda um apanhado dos projetos de lei em debate, que afetam a inovação. Destacou as alterações no Marco Legal da Inovação (Lei 13.243/16), a partir de vetos, que provocaram situações indesejáveis, como o veto ao texto que garantia a isenção das bolsas de estudo, cuja insegurança jurídica vem provocando a desativação de programas de bolsas em muitas organizações.
O coordenador do Comitê de Fomento à Inovação da Anpei, Luiz Carlos Frade, abordou a troca de experiências por parte das empreses e agentes de fomento sobre uso dos instrumentos disponíveis. As discussões têm servido à difusão das boas práticas e ao repasse de informações à diretoria da Anpei para sugerir melhorias nas políticas. Frade relatou que o Comitê atua também na orientação ao uso do dispositivo da Lei do Bem, tendo elaborado, conjuntamente com o MCTIC, o Guia da Lei do Bem, e ajudado a reverter a interrupção do benefício.
A diretora Lindalia Reis apresentou o programa Educanpei, que se volta para a educação continuada, com 32 cursos em dez diferentes rotas de capacitação e networking em gestão da inovação, incluindo versões in company. Lindalia destacou também o papel aglutinador da Anpei, uma vez que a inovação resulta da estruturação conjunta e da criação de projetos com o mesmo norte.
O diretor Geraldo Rochocz apresentou a plataforma de conhecimento Anpei Exchange, que disponibiliza bancos de dados com casos práticos e metodologias de inovação. Rochoz ressaltou que a ferramenta não apresenta um sistema pronto para uso, mas um conjunto de informações que podem ser customizadas, visto que o diferencial das empresas inovadoras é desenvolverem a própria metodologia.
Entre os associados, apresentaram suas experiências a gerente da Elsevier, Fernanda Gusmão, responsável pelo relacionamento corporativo. Ela ressaltou a importância da participação das empresas nos fóruns da Anpei, relatando sua participação nos comitês de Gestão da Inovação e de Fomento, além da realização de curso in company na empresa.
Lucas Yuki, coordenador/RJ do instituto Endeavor Brasil, apresentou a Pesquisa Cidade em Foco: Rio de Janeiro. Partindo do Índice das Cidades Empreendedoras, o estudo mostra que o Rio de janeiro caiu para a 14ª posição como cidade favorável ao empreendedorismo. Como causas, aponta impactos da crise – como redução dos investimentos em startups e 34% de redução nas compras públicas da Prefeitura –, a burocracia da cidade e a queda da qualidade de vida da população.
Mesa marca parceria entre associações
“Iniciativas 2017 do Sistema Fluminense de Inovação” foi o tema da mesa que reuniu algumas das entidades atuantes no campo do empreendedorismo no Rio de Janeiro. Antes das apresentações, foi formalizado o convênio de cooperação entre a Anpei e a Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro-RJ), assinado pelo vice-presidente da Anpei, Luiz Mello, e pelo presidente Assespro-RJ e Diretor Adjunto da Assespro Nacional, Marcio Lacs. O convênio visa o compartilhamento de recursos e serviços, prezando pela criação de um ambiente cooperativo de troca de conhecimento referente à inovação.
Marcio Lacs destacou que a Assespro é a primeira Associação empresarial do setor de tecnologia, com 40 anos, tendo se expandido recentemente com a grande demanda de processamento de dados e TI. Ressaltou que não há inovação sem colaboração e a parceria pode multiplicar as ações das entidades do setor.
O vice-presidente da Associação Nacional de Incubadoras e Parques Tecnológicos (Anprotec), José Alberto Aranha, destacou o trabalho complementar entre a Anprotec e a Anpei, pois a primeira trabalha com entidades que geram startups e a Anpei atua com as empresas. Destacou que a Anprotec mudou seu estatuto e agora abarca vários tipos de mecanismos de fomento ao empreendedorismo, reunindo parques e polos tecnológicos, incubadoras, aceleradoras e coworkings, o que favorece a colaboração.
Paulo Protásio, presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, destacou o potencial criativo do estado, que tem muitos designers e pessoas capazes de conceituar novos produtos e firmar os negócios baseados na inteligência. Destacou o contexto da indústria 4.0, automação e cultura maker, mostrando-se também esperançoso com a reforma do ensino médio que leva os alunos para uma vertente de ensino técnico.
Angela Uller, presidente do Conselho Diretor da Rede de Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro, relembrou o início da participação das unidades de pesquisa, universidades e outros sócios afiliados na diretoria da Anpei, ocorrido em 1998. Destacou que entre os atores da inovação há muitos aspectos em comum, mas também muitos antagonismos, como nos casos relacionados a propriedade intelectual, que precisam ser discutidos. Abordou também o papel das redes temáticas da Redetec, que inicia um novo grupo voltado à aplicação da tecnologia no desenvolvimento regional, utilizando agentes que já atuam localmente em várias regiões do Rio de Janeiro, como o Sebrae e a Firjjan. Também coordenadora da unidade Embrapii-Coppe/UFRJ, Angela Uller ressaltou que o estado possui quatro unidades do programa Embrapii, que tem recursos para apoiar inovação nas empresas em áreas específicas: o INT, na área de Tecnologia Química Industrial; a Coppe, em Engenharia Submarina; a Puc-Rio/Tecgraf, em processamento de Imagem; e o IFFluminense, em gestão de resíduos.
No encerramento do Conexão Rio 2016, Luiz Mello destacou a importância de identificar e valorizar os diferenciais da inovação no Rio de Janeiro, para fazer florescer a vontade de todos.
“O sistema brasileiro de inovação ainda é muito imaturo, está em um estágio de evolução que ainda tem que se especializar e cada um dos atores tem que passar a fazer melhor os seus papeis, e de maneira articulada com os demais” – contextualizou o vice-presidente da Anpei.
O evento foi realizado junto com os parceiros INT, Anprotec, Associação Comercial do Rio de Janeiro, Parque Tecnológico da UFRJ, Assespro RJ, Rede de Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro, Firjan, Sebrae-RJ, Outsource Brazil e Sucesu-RJ.
(INT)