“Meu avô, imigrante suíço nos EUA, passou quase que a vida inteira para criar um regador automático de grama”, discursa Chris Anderson, ex-editor-chefe da revista Wired e CEO da 3D Robotics, na plenária da XIII Conferência da Anpei. O evento ocorre entre os dias 3 e 5 de junho em Vitória. “Gastou tubos de dinheiro para fazer o primeiro protótipo, patentear a ideia e licenciar a tecnologia”, continuou. Para Anderson, o século XX passou duas lições para a humanidade. A primeira, é que se precisa de muito dinheiro para empreender. A outra é que o inventor precisa ter um profundo conhecimento das máquinas. “O século passado nos mostrou que inovar na manufatura não era algo para qualquer pessoa”, disse. A boa notícia, argumenta Anderson, é que o século XXI é bem diferente, a começar pelas revoluções tecnológicas que o antecederam. Estas estão facilitando a vida de qualquer inventor. Ele explica. O que para todos os historiadores é a Revolução Industrial — conjunto de transformações nos meios de produção, com início na Inglaterra e dali para o resto do mundo a partir do fim do século XIX — Anderson chama de “primeira” Revolução Industrial. “A mecanização mudou a trajetória da humanidade de forma mais profunda que qualquer outro acontecimento da história, melhorou a expectativa de vida e criou as cidades modernas”, disse. A “segunda” Revolução Industrial aconteceu há pouco tempo, por volta do ano 2000. “Trata-se da democratização da cultura digital, com a criação dos computadores, da internet e da impressora”, segue Anderson. “A impressora permitiu que as pessoas pudessem publicar qualquer coisa, mas em pequena escala, sem chance de competição com as grandes editoras”, disse. “A web transformou o ato de publicar em um botão do navegador, alcançando uma escala de audiência sem precedentes.” Quando alguém aperta o botão publicar no Facebook, por exemplo, é possível fazer algo que há 50 anos só era possível por meio de máquinas e uma rede de distribuição gigantesca. “Transformamos a indústria em um único botão.” Tudo isso leva, na argumentação de Anderson, ao processo que a humanidade está passando agora, a “terceira” Revolução Industrial. “É a combinação das duas anteriores, a manufatura digital.” O especialista afirma que já existe uma revolução social ocorrendo por causa disso e brinca. “Se vocês gostaram da web, vocês vão adorar o que já está acontecendo.” A Terceira Revolução Industrial de Anderson começa na impressora. Não essa que se encontra em escritórios e agências bancárias. É a impressora 3D. Um pequeno maquinário que usa plástico e outros materiais para produzir objetos sólidos a partir de modelos digitais, criados com ferramentas de modelagem 3D em computadores. Atualmente custam cerca de 1.000 dólares, mas o preço vem caindo consideravelmente. No entanto, uma impressora que gera objetos físicos é capaz de causar uma revolução? Sim, na opinião de Anderson. E já estão causando. O salto tecnológico não está na impressora em si, mas nos serviços que existem em volta dela e as portas que o conjunto abre. As impressoras 3D servem apenas como ponto de criatividade para modelos que são compartilhados na internet e que podem ser enviados para manufatura na indústria chinesa, usando apenas um cartão de crédito. “O software agora faz a mesma coisa que a manufatura fazia há 30 anos”, diz Anderson. “É possível escolher o material, a cor, o tamanho, quantas unidades devem ser feitas, produção local ou global e assim por diante.” Se tudo isso parece complicado demais, Anderson lançou-se a um desafio que ajuda a ilustrar onde quer chegar. “O que meu avô teria feito hoje, com as tecnologias que estão disponíveis?”, questionou-se. E foi pesquisar. Usando o Google Anderson encontrou algumas pessoas interessadas em regadores de grama automáticos. O grupo se uniu para criar, em apenas três semanas, o OpenSprinkler, uma versão “livre” do regador criado pelo avô de Anderson, mas utilizando tecnologias atuais. “Fizemos os primeiros protótipos com uma impressora 3D, produzimos alguns milhares de unidades em uma fábrica chinesa e chegamos ao produto final”, disse Anderson. “O nosso regador se conecta à internet, verifica a previsão do tempo e não tem patente, é de graça”, disse. “O que meu avô levou uma vida inteira para criar, alguns caras levaram três semanas, isso é realmente revolucionário — do mesmo jeito que a web transformou a publicação em um botão do navegador, a terceira revolução industrial está transformando a manufatura em um botão no computador.” Talvez Anderson acredite com tanta veemência nesse movimento de transformação industrial por ser um exemplo vivo dele. Buscando formas de entreter os filhos, juntou alguns sensores e construiu, sem precisar de muito conhecimento, o primeiro drone feito de lego. Drones são pequenos robôs que voam e se orientam por meio de sensores. “Nesse momento tive um estalo, sabia que algo importante havia acontecido.” Anderson criou um site para reunir pessoas interessadas em construir drones de forma livre e aberta. O site se chama DIY Drones, em referência ao movimento “Do It Yourself” (Faça Você Mesmo), que se popularizou nos EUA após a segunda guerra mundial e a guerra do Vietnã. A comunidade cresceu tanto que hoje possui dois milhões de acessos mensais e uma comunidade de 40.000 usuários. Foi lá que Anderson encontrou um sócio para fundar a 3D Robotics, uma empresa focada na produção de Drones customizados. O jornalista não revela o valor, mas diz que a empresa fatura múltiplos milhões de dólares por ano. O modelo de negócios da 3D Robotics é de deixar qualquer empresário de cabelo em pé. É todo ao contrário. “Compartilhamos toda nossa propriedade intelectual com a comunidade, não patenteamos nada, não licenciamos nada e somos contra”, disse Anderson. “Sabemos que não serve para todo mundo, mas somos contra”, explicou. O modelo de negócio de Anderson incorpora os princípios básicos da inovação aberta, tema da conferência desse ano. Ao permitir que qualquer um copie seus modelos e ao construir uma comunidade em volta da empresa, Anderson pode extrair as melhores ideias que giram nas cabeças de 40.000 usuários do DIY Drone, em vez de manter um pequeno laboratório de pesquisa e desenvolvimento. As melhores ideias são incorporadas à linha de produção da empresa e são devolvidas para a comunidade na forma de modelos e desenhos esquemáticos. Mesmo com as cópias chinesas, Anderson afirma que a empresa consegue se diferenciar com qualidade, serviço ao cliente, garantia e a comunidade. “90% dos clientes prefere pagar um terço a mais pelo nosso produto do que comprar uma cópia chinesa”, disse. Não é possível dizer se o modelo da 3D Robotics se aplica a todas as outras empresas, mas ficam algumas lições do modelo de inovação aberta. A primeira é que ela pode ser um caminho concreto para diferenciar uma empresa das outras, ao construir uma comunidade em volta de determinado produto. A segunda é que o compartilhamento de conhecimento, a abertura da propriedade intelectual, guardadas com tanto cuidado durante o século XX, pode ser chave para manter a empresa competitiva e com ideias frescas. Afinal, no caso de Anderson, 40.000 cabeças pensam melhor do que algumas poucas em um laboratório. As possibilidades para qualquer empresa que se comporte nesse modelo são infinitas, finaliza.

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