O Brasil pode vir a se transformar numa grande fazenda. O alerta foi feito em 2011, na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados, por Ronaldo Mota, na época secretário de DesenvolvimentoTecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A grande fazenda (com todo respeito a quem se dedica à agropecuária) é uma metáfora usada para imaginar um cenário possível no Brasil do futuro, que corre o risco de perder sua capacidade industrial e ser visto na economia mundial apenas como um fornecedor de alimentos e minérios. Na ocasião, o então secretário apresentou ainda aos deputados dados sobre o crescimento da pesquisa científica nacional. Em apenas 15 anos, a participação do país na produção do conhecimento, medida por meio da publicação de artigos em revistas indexadas, pulou de menos de 0,5% para 2,70%, um aumento de 474 %. Mas esse crescimento pouco fez para estimular o desenvolvimento de novas tecnologias no país. Em um ranking mundial de inovação, o Brasil ainda aparece na 81ª posição, atrás de países como Tailândia, Grécia e Jamaica. A busca dos caminhos para facilitar a transferência de conhecimento da academia para o setor produtivo tem se intensificado desde 2000. Entre outros incentivos, surgiram agências especializadas nas universidades, leis de renúncia fiscal, linhas de fomento do BNDES e da Finep, incubadoras de empresas, parques tecnológicos… O processo culminou em 2011 com o Plano Brasil Maior, uma iniciativa do governo federal que tem como lema inovar para competir, competir para crescer. Para esse fim, investimentos volumosos têm sido feitos: em novembro passado, o MCTI anunciou R$ 15 bilhões para aplicação em crédito, subvenção e fomento à inovação até 2014. Porém, se o sistema já existe, ainda não está claro o quão eficiente ele é. Apesar dos significativos progressos no sistema de inovação brasileiro, ainda existem vários obstáculos a superar. É o que demonstra a história do engenheiro químico Luiz Gustavo Simões. Graduado em engenharia química pela UFSCar, fez mestrado e doutorado no Instituto de Química da Unesp em Araraquara. Em 2005, ele e mais dois colegas pesquisadores fundaram a Nanox. Com sede em São Carlos, a empresa surgiu com a proposta de ser a primeira empresa brasileira baseada em nanotecnologia. Seu principal produto é o NanoClean, que confere proteção antimicrobiana a vários outros produtos do setor alimentício, têxtil, eletroeletrônico, de saúde, entre outros. De 2005 para cá, o faturamento da Nanox cresceu em média 70% ao ano pulou de R$ 70 mil em 2005 para R$ 2 milhões em 2011. Hoje, boa parte de sua produção é exportada. Simões observa com clareza os diversos obstáculos que separam as duas esferas. O primeiro deles está na própria formação recebida. Na graduação eu pensava em ser empresário, mas me sentia uma exceção, tanto junto aos meus colegas quanto ao ambiente universitário. Não havia nenhuma disciplina que procurasse desenvolver um espírito empreendedor por parte dos alunos, lembra. A formação oferecida aos alunos reflete, na verdade, as próprias prioridades da instituição. Não é comum que os pesquisadores busquem interação com empresas. A maioria deles está preocupada apenas em gerar artigos. Algumas empresas até querem se aproximar da universidade, mas não sabem como fazer isso, diz. Segundo ele, este distanciamento serviria também para alimentar preconceitos. Há essa visão de que, no Brasil, a universidade é um lugar só para cientistas. Isso gera um certo preconceito. E muitas vezes, se a nova companhia está numa incubadora, o empresário tende a associá-la a esta imagem negativa, conta. Simões afirma que o sistema público de financiamento, que lhe permitiu bancar o desenvolvimento inicial de sua tecnologia, funcionou bem. Mas a etapa seguinte, em que é preciso obter fundos para transformá-la em produto, foi a mais difícil, e é onde hoje muitos projetos promissores patinam. Nós conseguimos dinheiro para financiar esta fase porque fizemos um trabalho intenso de busca de clientes e financiadores. Um pesquisador vindo da universidade muitas vezes não faz este movimento porque não precisa. O salário dele na universidade já entra todo mês. Nós tivemos que ir atrás porque precisávamos, diz. As empresas que estão saindo de incubadoras e buscam um financiador disposto a correr o risco ainda enfrentam dificuldades, analisa Ana Torkomian, diretora da agência de inovação da UFSCar e ex-secretária adjunta de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTI. Ela vê nesta questão um elemento cultural. No Brasil, historicamente, não temos essa cultura de correr riscos. Os investidores pensam para que arriscar? Vamos investir no que é seguro. (Com informações da Revista Unesp)

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