“É como viver o futuro. O que se faz lá, não se faz em nenhum outro lugar do planeta”. A frase de Victor Fernandes, diretor de ciência e tecnologia da Natura, apontado pela revista americana Forbes como um dos líderes mais inovadores do mundo, resume bem o apelo que o Massachusetts Institute of Tecnology (MIT) tem para as empresas. Gigantes brasileiras como Vale, Embraer, Votorantim e a própria Natura usam o lendário centro de estudos não só para buscar novos produtos e soluções tecnológicas, mas para antever o que existe na próxima curva dos negócios ou daqui a duas curvas. A Natura, por exemplo está no MIT há cerca de três anos. Tem oito projetos em andamento no Media Lab do instituto, além de pesquisas em outros departamentos. Mais de 15 grupos de funcionários que incluem de diretores a técnicos foram a Massachusetts acompanhar as novidades. E, ainda assim, a empresa que lança cerca de 100 produtos por ano não tem sequer um perfume, xampu, hidratante ou qualquer item à venda que tenha sido desenvolvido lá. Na verdade, essa nunca foi a ideia da marca. “O que estamos pesquisando é design de experiências”, diz Fernandes. “Queremos saber como as pessoas vão usar, criar, vender, descartar, recomendar cosméticos não ‘amanhã’, mas ‘depois de amanhã'”, afirma. Ao todo, dez instituições brasileiras usam o MIT para enxergar o “depois de amanhã”. Além das citadas, as associadas Anpei CPFL e Certi, e também a MPX (empresa de energia de Eike Batista), Camargo Corrêa, Promon e Senai usam o instituto. Pelo mundo, são 200 companhias, das quais 120 fora dos EUA. Elas são reticentes ao dizer quanto dinheiro investem por lá, mas não é difícil ter uma ideia. O orçamento total do MIT é de US$ 2,6 bilhões por ano, dos quais US$ 1,5 bilhão é para pesquisa. Desse valor, 15% vêm dessas empresas, ou seja, US$ 225 milhões, equivalentes a quase meio bilhão de reais. “Nós cobramos uma taxa inicial de US$ 60 mil para mostrar a elas o instituto, depois elas decidem o que querem fazer e quanto vão investir”, explica Tony Knopp, diretor sênior da área de relacionamento com a indústria no MIT. Tony nasceu no bairro do Rio Comprido, no Rio de Janeiro, fala português com sotaque e esquece algumas expressões, mas é enfático ao definir a relação entre as duas partes. “Nós não somos uma consultoria”, diz. Em outras palavras, o MIT não funciona como um departamento de pesquisa de luxo para as empresas interessadas em terceirizar esse trabalho. “Nós fazemos parcerias para gerar conhecimento”, afirma. E, com o velho pragmatismo americano, completa: “é preciso três coisas: chegar com uma pergunta interessante e nunca respondida, que a gente goste das pessoas e que tenham dinheiro para investir. Ok, se tiver a pergunta e o dinheiro já pode ser”. Ainda que seja uma anedota, a explicação diz algo a respeito da postura do MIT. A instituição sempre foi voltada para o mercado, as empresas, o dinheiro. Mesmo a verba pública para a pesquisa é “competitiva”, nas palavras de Tony ou seja, o governo lança um edital dizendo que determinada pesquisa o interessa, e as universidades competem pelo investimento. “Somos muito receptivos para a indústria; isso obviamente não ocorre no Brasil e até em muitas universidades americanas”, afirma. Esse, para Tony, é um motivo pelo qual empresas brasileiras de ponta estão lá. Outra gigante que faz pesquisa no MIT é a Embraer. Assim como a Natura, a fabricante de aviões quer conhecimento. Ela faz experiências, num consórcio com outras empresas, sobre nanotubos de carbono, que podem ser usados para costurar lâminas de compósitos da aviação. “Eles não vão fabricar nanotubo, só vão comprar o material, mas estão no MIT porque querem entender tudo que estará dentro de um avião”, diz Tony. E as concorrentes Boeing e Airbus também estão lá, fazendo exatamente o mesmo. No caso da Vale, a empresa está de olho em uma tendência bastante avançada no mundo dos negócios: o empreendedorismo interno. Ou seja, a possibilidade de novas empresas surgirem dentro da própria empresa. “Temos feito pesquisas com esse foco no MIT há um ano e meio, para entender como incentivar esse tipo de empreendedorismo no Instituto Tecnológico Vale”, diz Hugo Resende, que comanda a área de incubação de novos negócios na instituição. “Acredito que daqui a um ano teremos os primeiros resultados”, afirma. Além de estimular funcionários a serem empreendedores, a Vale também usa o MIT para pesquisas de ponta em áreas como eletroquímica em titânio. “Temos um produto, que são alunos e pesquisadores. Precisamos dessas indústrias perto deles”, diz Tony. “O incrível é que a gente cobra das empresas para deixar que elas façam algo que é do nosso próprio interesse. É como Tom Sawyer [personagem de Mark Twain], que cobrava dos amigos para deixá-los pintar a cerca que ele devia pintar”, brinca o diretor. (Com informações do IG)

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