O que têm em comum a Natura Cosméticos, de São Paulo, a Celulose Irani, na região Sul, e a distribuidora de energia Coelce, do Nordeste? Não se trata de nenhuma pegadinha, e sim de uma pergunta séria sobre liderança empresarial. A resposta conforme descobrimos é que as três estão entre as companhias mais transparentes do Brasil no que se refere à sustentabilidade. Foi a essa conclusão importante que chegou um recente estudo feito pela SustainAbility e pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável. No estudo, as 10 principais empresas do Brasil foram classificadas de acordo com seu nível de sustentabilidade (veja aqui). A divulgação da pesquisa Rumo à credibilidade ocorre em um momento em que as informações sobre sustentabilidade parecem estar crescendo quase que exponencialmente no Brasil. Quando publicamos pela primeira vez nossa pesquisa internacional, em 1994, as informações vinham, sobretudo, de países desenvolvidos e se limitavam quase que exclusivamente à divulgação de dados relativos ao meio ambiente. Hoje, diferentemente do que ocorria no passado, as melhores práticas globais privilegiam o desempenho das empresas e seu reflexo sobre uma série muito mais ampla de questões fundamentais no plano social, econômico e de meio ambiente. O Brasil, vale ressaltar, ocupa hoje um lugar de destaque em melhores práticas entre as economias emergentes. Contudo, de que maneira os demonstrativos de sustentabilidade das empresas brasileiras se comportam em relação às melhores práticas internacionais? De modo geral, as empresas líderes brasileiras se sentem mais à vontade atualmente entre as líderes mundiais, embora persista uma lacuna evidente entre umas e outras. A pontuação em nosso novo levantamento oscila entre uma alta de 54% (Natura) e uma baixa de 35% (Banco Itaú), sendo o percentual médio de 47%. Conforme nossa mais recente pesquisa global (2006), observamos uma alta de 80% (British Telecom) e uma baixa de 39% (Telus), sendo o percentual médio de 57%. Embora as empresas brasileiras apresentem um bom desempenho em governança e estratégia seção de nossa metodologia de avaliação que testa a articulação do compromisso e da habilidade das empresas de contribuírem com o desenvolvimento da sustentabilidade , seus resultados se mostram bem mais tímidos quando se trata de descrever sistemas que permitam colocar em prática a estratégia, especificando o desempenho real obtido ou estabelecendo alvos futuros. Até mesmo os melhores relatórios são mais contundentes nas palavras do que no conteúdo propriamente dito, sinal de que a sustentabilidade ainda não foi incorporada ao negócio como um todo sendo impulsionada, principalmente, por considerações de responsabilidade corporativa. Um grande desafio para as companhias brasileiras e que se reflete no título do relatório consiste em descobrir um meio pelo qual os leitores do relatório o tomem como informação sincera e confiável, capaz de transmitir um compromisso real com a sustentabilidade. A lacuna de credibilidade merece a máxima atenção, porque está relacionada a uma tendência irresistível de enfatizar informações positivas e de ocultar as negativas. Está igualmente associada à falta de metas e de indicadores objetivos, à ausência de vozes confiáveis da parte de todos aqueles com algum envolvimento, seja de que natureza for, com a empresa e, por fim, à falta de entendimento do que significa um compromisso verdadeiro de liderança. Embora diversas empresas por nós examinadas tenham dado passos claros nessa direção, como provam as cartas inspiradoras do CEO da Celulose Irani, a inclusão das perspectivas dos grupos com algum tipo de participação na Energias do Brasil, a exploração honesta de grandes desafios por parte do Banco Real e da Natura, o fato é que para muitas empresas brasileiras a estrada rumo à credibilidade será longa, acidentada e por vezes incômoda. Trata-se, portanto, de uma viagem que nenhuma empresa bem-sucedida poderá evitar. A Anpei parabeniza as associadas Suzano Petroquímica e Sabesp por estarem entre as 10 empresas submetidas à avaliação de melhores práticas aplicadas aos relatórios de sustentabilidade. As outras empresas classificadas foram: Natura, Ampla e Coelce (empatadas), Banco Real, Energias do Brasil, Bunge e Celulose Irani (empatadas) e Banco Itaú. A classificação foi feita de acordo com o ranking estabelecido pela SustainAbility/FBDS. (Fonte: Época NEGÓCIOS)
Brasil ocupa lugar de destaque em melhores práticas sustentáveis
As companhias brasileiras precisam descobrir como transformar o relatório de sustentabilidade numa fonte de informações sincera e confiável