A farmacologia foi uma das áreas mais beneficiadas pelo desenvolvimento da biotecnologia. Com ela é possível produzir uma nova geração de medicamentos mais eficientes contra doenças como o mal de Parkinson, diabetes, doenças autoimunes e, futuramente, até o câncer. Contudo, por necessitarem de tecnologia mais sofisticada, com reagentes para pesquisas que precisam ser importados, eles se tornam cada vez mais caros no mercado. Para atender a necessidade constante da busca por melhores medicamentos com menor custo, a saída para o Brasil seria começar a produzir os produtos que já possuem patentes vencidas, mas que ainda não tiveram oportunidade de serem desenvolvidos. A ideia é recuperar projetos com grande potencial produzidos pelo País. Mas os entraves burocráticos têm impedido que essa opção se concretize. Durante o 6º Congresso Brasileiro de Biotecnologia, realizado esta semana em Brasília (DF), o diretor cientifico do Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos (CIEnP), João Calixto, foi enfático: se o Brasil não resolver esse gargalo, o País não poderá inovar em qualquer setor. “A burocracia está matando a inovação, não só no setor farmacêutico como na biotecnologia de forma geral”, advertiu. Segundo Calixto, um dos medicamentos que utilizam biotecnologia, mas já teve sua patente vencida, são os biossimilares que poderiam substituir os remédios genéricos com a vantagem de serem mais eficientes. Para ser aprovado, contudo, é necessário demonstrar que a sua variabilidade e as eventuais diferenças existentes entre esse medicamento e os de referência não afetam a segurança dos usuários. “A área farmacêutica é a mais regulada do País. Tem que passar por muitas instâncias até lançar um produto. É Anvisa, Receita Federal, Executivo, Legislativo, etc. Uma inovação é cara e nessa área tudo demora. Ao perder tempo no processo burocrático, se perde a patente e o produto perde o mercado”, explicou Calixto. No Brasil, a maioria dos medicamentos de princípio ativo são importados. Para o diretor, isso gera um desequilíbrio enorme no processo científico. “Hoje para importar um reagente de algum projeto se demora cinco meses ou mais. Isso impacta duramente a pesquisa porque não se tem o produto no mercado daqui. Isso também envolve a burocracia que não diferencia a importação de um caça-níquel, por exemplo, de um reagente para pesquisa. Não há como inovar em biotecnologia desta forma”. Pouca inovação A falta de interação entre universidades e empresas, o pequeno número de institutos de pesquisa independentes e companhias sem capacidade de inovar são alguns dos aspectos apontados pelo diretor que dificultam o avanço científico e tecnológico do Brasil. “Continuamos sendo um País com pouca inovação e não é por falta de criatividade, mas por falta de estrutura, de estímulo e burocracia excessiva. Ficamos discutindo a mesma coisa ao longo de 20 anos e não avançamos. É muito difícil”. Para Calixto, apesar de o Brasil formar mais de 15 mil doutores por ano, o próprio sistema político, social e cultural desestimula os recursos humanos a serem inovadores. “Um país inovador tem jovens inovadores. Nós não temos porque desde a escola primária eles não são estimulados. Pelo contrário, os pais querem que eles se tornem servidores públicos. Isso não acontece nos países inovadores”, alertou. O diretor cientifico do CIEnP palestrou no último dia do 6º Congresso Brasileiro de Biotecnologia, realizado na última sexta-feira (13). (Agência Gestão CT&I)

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