A universidade não tem renovação e a indústria não tem doutores, diz o médico e diretor-presidente do Instituto Butantã, Isaias Raw . Em um relato sobre seu processo de formação científica, publicado na edição de 28 de julho do suplemento Estadão.edu, do jornal O Estado de S. Paulo, o cientista também afirma que é necessário que as indústrias brasileiras absorvam mais doutores em seus quadros de colaboradores para que possam gerar tecnologias no País. Ao comparar o modelo de gestão da pesquisa e desenvolvimento na iniciativa privada no Brasil e nos EUA, o especialista avalia que as indústrias norte-americanas desenvolvem suas próprias pesquisas por meio da contratação de pesquisadores, enquanto os empresários brasileiros preferem comprar pesquisas. Já as multinacionais, por sua vez, adquirem as empresas brasileiras que tentam desenvolver suas próprias tecnologias com o objetivo de diminuir a concorrência. Leia o relato do especialista na íntegra: Eu sempre fui muito independente, não esperava conselho de ninguém. Aos 11, 12 anos, tinha um laboratório no quintal de casa, tirava o coração dos sapos e todas as crianças do bairro queriam ver isso. Aos 21 anos, já era um pesquisador. Não havia ninguém para me ensinar. Aprender a aprender é fundamental. Inventar as coisas sozinho é muito difícil. Os núcleos de pesquisa se formam quando tem alguém que lidera. Mas eu comandava um laboratório na faculdade. Ninguém saberá explicar por que, mas no 2º ano do curso de Medicina da Universidade de São Paulo, aos 19, eu já dava aulas para o 1º. Eu herdei o departamento, que naquela época se chamava Química Physiológica. Estava vazio e tive que reinventá-lo. O mais difícil na pesquisa é saber formular uma pergunta, e nisso um professor pode ajudar. Mas acho que o que se ganha com orientação perde-se em criatividade. Ao entrar na universidade, os alunos deveriam já saber como é o método científico, para que possamos formar pessoas críticas, que observem e tirem conclusões. Depois, precisamos absorver esses doutores. Mas, a cada 10 mil que formamos, deve ter uns 9 mil desempregados ou subempregados. A universidade não tem renovação e a indústria não tem doutores. Ela prefere comprar o pacote pronto. Nos Estados Unidos o sujeito ainda tem a opção de ir para a indústria. Aqui, nossos empresários são mais primitivos e compram a pesquisa. Já as multinacionais eliminam a concorrência comprando quem tenta desenvolver tecnologia, como aconteceu com a Biobrás, que fabricava insulina. Ela foi vendida a uma multinacional. Isso tirou a concorrência. Não é um mundo simples nem ético. Isso é uma coisa que se aprende com a vida. Toda essa bagunça que eu vivi me deu outra visão de mundo, que é dizer o que eu posso fazer e levar para a sociedade. Aprendi tecnologia saindo da ciência básica. Nem todo mundo tem que seguir necessariamente esse tipo de carreira. Mas eu me divirto muito. (Fonte: O Estado de S. Paulo)

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