Entre as tantas lideranças que o Brasil vem assumindo na última década, de uma não pode se orgulhar: ter o maior número de empreendimentos com baixo conteúdo inovador entre os 54 países avaliados pela pesquisa Global Entreperneuship Monitor (GEM), coordenada internacionalmente pela London Business School e pela americana Babson College. Apenas 5,5% dos empreendedores ouvidos pela pesquisa acreditam que oferecem algo realmente novo para o mercado, enquanto 83,5% não consideram que suas empresas, produtos e serviços sejam baseados em inovação. Apenas 6% são pioneiros com atuação em segmentos inexplorados. Segundo dados do Ministério de Ciência e Tecnologia, o Brasil investe apenas 1,09% do Produto Interno Bruto (PIB) em inovação, enquanto o Japão aplica 3,44% e os Estados Unidos, 2,77%. “Não será da noite para o dia que transformaremos esse cenário”, afirma Romeu Friedlaender Júnior, economista do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP) e membro da equipe do GEM Brasil. Para o País garantir um melhor posicionamento, as micro e pequenas empresas precisam adotar a inovação como parte da estratégia do negócio, realizar investimentos constantes na área, dominar as ferramentas de gestão dos processos inovadores, afinar parcerias com universidades e centros de pesquisa, ter disposição para correr riscos e se preparar para conseguir dinheiro subsidiado ou a fundo perdido. “Inovar significa arriscar. Poucos empreendedores acreditam que têm condições de assumir o preço da ousadia e colocar todo o negócio em xeque”, observa o executivo. Não há como negar, porém, que inovar passou a ser uma necessidade para grandes e pequenos negócios dispostos a ganhar espaço em mercados cada vez mais competitivos. Nesse contexto, dizem os especialistas, a participação das incubadoras, parques tecnológicos, núcleos de inovação regionais, agências de inovação e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) tem sido de grande importância, porque ajuda os empreendedores a estruturar melhor seus negócios, a melhorar a gestão e a formatar projetos consistentes capazes de justificar a liberação de capital para aplicação em inovação. Dinheiro existe. Só a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), agência ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, reservou R$ 4 bilhões para projetos de pesquisa e fomento à inovação em 2010. Os fundos de venture capital, outros R$ 2,7 bilhões. O programa SebraeTec de Inovação Tecnológica, por sua vez, disponibilizou R$ 32 milhões este ano para 20 mil empreendedores investirem na área. Mas ainda é pouco. Pesquisa feita pelo Sebrae-SP revela que 39% dos empreendedores precisariam de impostos menores para realizar inovações em seus produtos e 22% necessitam de empréstimos bancários para levar seus projetos adiante. “Estima-se que 2% das 5 milhões de empresas formais do País precisam inovar. Conseguimos atender no máximo 3 mil de um universo de 100 mil empreendimentos”, declara Eduardo Costa, diretor de inovação da Finep. “Sabemos que não é o ideal, mas já avançamos bastante”. A demanda pelo crédito subsidiado ou a fundo perdido é grande, mas poucos preenchem os requisitos exigidos pelas agências de fomento. Em algumas regiões do País sobra dinheiro porque não existem propostas consistentes. A falta de estrutura e de profissionalismo na gestão somada a planos de negócios ineficientes são alguns dos gargalos apresentados pelas empresas na hora de pleitearem subsídios para inovação. “Muitas encaminham aos órgãos de fomento apenas a descrição do novo produto e não o projeto de pesquisa que levará à criação de algo inovador para a sociedade, com valor de mercado”, afirma Carlos Henrique Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Segundo ele, falta orientação para os empresários prepararem corretamente seus projetos, calcular os riscos, simular o valor do investimento e apontar onde está a inovação. Na opinião de Roberto de Alencar Lotufo, diretor executivo da Agência de Inovação Inova Unicamp, a fim de que muita ideia boa não se perca pelo caminho é preciso criar condições de investimentos a longo prazo para os micro e pequenos negócios, incentivar a atuação de investidores estratégicos, multiplicar o capital empreendedor, criar novos núcleos de inovação regionais, como incubadoras e parques tecnológicos, além de estreitar as relações entre as universidades e as empresas. “Mas é preciso deixar claro que a parceria com a academia é uma complementação para as atividades de P&D da empresa e não o seu único centro de pesquisa”, afirma. O hiato entre os dois mundos ainda é grande. O Brasil forma cerca de 10 mil doutores por ano. Desses, apenas 1,9% são incorporados pelo mercado. “A academia produz conhecimento, mas quem faz a inovação é a empresa, porque é no ambiente empresarial que produtos e serviços ganham forma para servir à sociedade”, afirma Paulo Ignácio de Almeida, diretor executivo da Agência de Inovação da Universidade Federal de São Carlos. Hoje, 70% da produção do conhecimento no Brasil têm origem na academia e 30% nas empresas. A maioria dos empreendedores encara a pesquisa como um investimento caro e de longo prazo. Ignora o fato de que para os micro e pequenos negócios a inovação é sinônimo de sobrevivência. Na visão de Marcelo Aidar, coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV-Eaesp, muitas vezes a dificuldade em inovar não está no desconhecimento tecnológico, mas na falta de qualificação para pensar em novos modelos de negócio. “Entregar um produto ou serviço de forma diferente ao mercado também significa inovar. Está aí o pulo do gato das MPEs, porque são ágeis e estão próximas do cliente. Sabem o que ele quer”, afirma. (Fonte: Valor Econômico) NOTA DA ANPEI A Anpei realiza em parceria com o Sebrae os projetos Como a pequena empresa pode lucrar com a inovação e Criatividade e inovação I.9. Os programas visam promover ações e iniciativas inovadoras nas MPEs, incentivando e motivando empresários e profissionais a desenvolver produtos e/ou serviços inovadores, considerando aspectos regionais e diferenciais competitivos.

Av. Prof. Almeida Prado, 532
Prédio 53 – Butantã – 05508-901
Comunicação: comunicacao@anpei.org.br
Gabriela – +55 11 98886-6581
relacionamento@anpei.org.br
© 2024 ANPEI - Todos os direitos reservados.