Jerome Engel, da Universidade de Berkeley e fundador de empresas tecnológicas, afirma que, na crise, há espaço para projectos inovadores.
Não há melhor altura para arrancar com um projeto inovador do que em períodos de crise, afirma, paradoxalmente, Jerome Engel, fundador e diretor do Centro Lester para o Empreendedorismo e Inovação da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Parece um disparate, um conselho louco, mas é absolutamente confirmado pela história, logo acrescenta o professor que dirige um programa de empreendedorismo em uma das universidades ligadas ao famoso Silicon Valley. Mas empreender em época de recessão não é fácil, nem pode derivar apenas de uma lógica de sobrevivência. Não falo de empresariado de subsistência – em que as pessoas no desemprego têm de improvisar para sobreviver, ainda que isso faça todo o sentido para colocarem comida à mesa, sublinha Engel, que participou na criação de algumas start-up inovadoras e que continua ainda hoje na administração de várias. Falo de novos modelos de negócio e de comercialização de ideias inovadoras e baseadas em tecnologia. A iniciativa individual para a sobrevivência é altamente louvável, é essencial, mas me refiro a um tipo de empreendedorismo diferente. Um empreendedor que terá de criar um negócio que possa ser participante da vaga tecnológica que marcará as próximas décadas. Isso aconteceu no passado, e voltará a acontecer. Filtro mais apertado O empreendedor potencial tem de estar preparado para o fato de que o capital de investimento será muito mais difícil de arranjar e o filtro de avaliação da ideia mais apertado, diz Engel, que criou em Berkeley um programa de ensino dirigido ao capital de risco e foi fundador com Michael Porter (o pai do conceito de clusters) de uma firma de capital de risco, a Monitor Ventures. Sobretudo as firmas de capital de risco serão muito mais seletivas e os capitalistas de risco terão de se basear mais no seu dinheiro do que na mobilização de fundos alheios, devido à derrocada financeira das suas aplicações e ao retorno baixo dos seus investimentos de risco nos últimos cinco anos. Mas o resto será mais fácil, acrescenta Engel, com otimismo. O resto é mobilizar pessoal com talento há muita disponibilidade nestes períodos de quebra , espaço não falta imobiliário a preço de saldo e sobretudo há algum tempo para experimentar e conseguir concretizar o projeto antes de o desenvolver em escala, afirma. O professor de Berkeley deixa para o fim um segredo: saber usar a globalização em sintonia com as características locais e regionais onde o empreendedor desenvolve o seu projeto. Ser global As aglomerações locais ou regionais de empresas inovadoras – os clusters – são essenciais para este tipo de novos projetos, como demonstra o caso de Silicon Valley, perto de Berkeley. Mas a vaga recente da globalização alterou a sua dinâmica. As empresas inovadoras estão em uma corrida global e as que tiverem melhor acesso a recursos e mercados globais terão uma vantagem competitiva, afirma Jerome Engel. Esta vantagem pode ser tão substancial que se torna uma competência central da nova empresa. Em suma, a inserção global pode ser tão importante como a regional, conclui o professor que publicará em breve um trabalho intitulado Global Networks of Clusters of Innovation: The internationalization of the Innovation Process, na revista Business Horizons. (Fonte: Jorge Nascimento Rodrigues – http://aeiou.expresso.pt/crise_e_a_melhor_altura_para_se_tornar_empreendedor)