O Fórum Econômico, de Davos, foi marcado por alertas de que uma nova onde de protecionismo ameaça o mundo diante do agravamento da crise financeira. A Comissão Européia disse que vai contestar cláusula do pacote americano que proíbe a compra de ferro e aço estrangeiros – como europeus e brasileiros – para projetos de infraestrutura financiados com recursos do Tesouro. O pacote de Obama será votado em breve no Senado. Em Belém, no Fórum Social, os presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador) e Fernando Lugo (Paraguai) celebraram o “colapso do neoliberalismo de Davos”. Greve na França levou um milhão às ruas. A nuvem do protecionismo começou a pairar sobre o comércio internacional, levantando o temor de que a crise mundial poderá desencadear um novo problema: guerras comerciais. A Comissão Europeia – órgão executivo da União Europeia — já anunciou ontem que vai contestar a cláusula “Compre América” – que faz parte do pacote de US$819 bilhões aprovado pela Câmara de Representantes dos Estados Unidos. Esta cláusula proíbe a compra de ferro e aço estrangeiros para projetos de infraestrutura financiados pelo pacote de estímulo – o que prejudicaria não apenas os europeus, mas sobretudo o Brasil, que é o maior exportador de ferro e um dos maiores exportadores de aço do mundo. Se a cláusula passar pelo Senado e for aprovada pela nova administração, esta poderá marcar a primeira disputa entre europeus e o novo presidente Barack Obama na área econômica. – Se passar, vai ser uma clara violação dos compromissos da OMC (Organização Mundial de Comércio). Isso não é alguma coisa que vamos ver acontecer e ignorar – disse Peter Power, porta-voz da Comissária de Comércio da UE, Catherine Ashton. Ontem, em Davos, onde acontece o Fórum Econômico Mundial, sem querer se referir ao pacote americano, alegando que sua posição exige neutralidade, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, alertou para a pressão protecionista. – Esta crise está desencadeando, como esperado, pressões protecionistas. O tecido econômico e social foi atingido (com a crise), tem muita ansiedade, o desemprego está crescendo, economias estão encolhendo. OMC: protecionismo é um “tiro no pé” Lamy claramente gostou da decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de voltar atrás na exigência de licença prévia de importações, uma medida que, para muitos, foi considerada prejudicial ao livre comércio. – Isso (vindo de Lula) não me surpreende – disse. Mas, para Lamy, erguer barreiras ao comércio com o argumento de que é preciso, entre outras coisas, proteger empregos vai provocar exatamente o efeito contrário: fazer piorar. O diretor-geral da OMC insistiu que há muitas outras formas de lidar com a insegurança social. – A primeira coisa a fazer para lidar com esta crise é não dar um tiro no próprio pé – afirmou Lamy, acrescentando que, se um começa a erguer barreira agora, isso vai desencadear barreiras por todos os lados. Também presente em Davos, o ministro do Comércio da Índia, Kamal Nath, disse que a crise econômica poderia levar à adoção de salvaguardas nacionais, para proteger indústrias e empregos, e ameaçou retaliar as nações que prejudicarem as exportações indianas com medidas protecionistas. – Nós receamos que isso aconteça. Se governos decidirem proteger suas indústrias não-competitivas não será um comércio justo – afirmou Nath. – Se houver medidas protecionistas, a Índia será obrigada a também tomar medidas contra esses países. Mas enquanto Lamy e Nath pregavam o livre comércio como uma das saídas para ajudar o mundo a sair da crise, o ex-presidente americano Bill Clinton fazia um discurso inequívoco, que, para muitos, indica para que lado os democratas – hoje no poder nos EUA – vão tender: – As pessoas estão com temor agora. Não é uma boa hora para termos acordos comerciais – disse, numa alusão à Rodada de Doha, de negociações na OMC, para liberalização do comércio mundial. Lamy respondeu assim : – As pessoas estão com temor por causa da crise econômica e não por causa do comércio. Eu espero que os EUA, sendo líderes na OMC, continuem líderes, porque eles têm se beneficiado muito do comércio. Numa referência à China, Clinton disse ainda que os países dependentes das exportações para os EUA, e que agora sofrem com a crise, devem apoiar o plano de Obama. Segundo ele, assim como a China compartilhou os lucros do crescimento, agora deve dividir as responsabilidades. – A casa está queimando e temos que apagar o incêndio imediatamente – disse. (O Globo: http://www.finep.gov.br/temp/2l529232/F1602741.htm)
Crise já provoca medo de nova onda protecionista
Europa anuncia que vai contestar medida “Compre América” incluída em pacote de Obama