A internacionalização de centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de grandes empresas começa a ser acelerada e ganhar um espaço maior no Brasil. São amplos laboratórios multinacionais que têm o objetivo de gerar conhecimento e desenvolver tecnologia para produtos inovadores destinados ao mercado ou a clientes específicos. Exemplos maiores foram os anúncios neste ano de dois centros de pesquisa e desenvolvimento, um da IBM e outro da General Electric (GE), que vão ser instalados no país em locais ainda indeterminados porque são objeto de negociações com parceiros empresariais e governos federal, estaduais e municipais. Pesam na decisão da escolha da cidade ou região a oferta de incentivos fiscais, tanto na isenção de impostos como em financiamentos de agências governamentais, e a existência de profissionais qualificados para exercer a função de pesquisadores dentro das empresas. Os representantes das duas multinacionais não falam em valores, mas notícias veiculadas na imprensa indicam um investimento de US$ 250 milhões da IBM e US$ 120 milhões da GE, totalizando US$ 370 milhões. Esse movimento mundial de internacionalização de atividades de P&D de empresas multinacionais fora do país de origem acelerou-se fortemente em meados da década de 1990 e nos anos 2000, como mostrou um estudo de 2005 da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês). A busca de novos mercados emergentes primeiro focou a China, a Índia e países do Leste Europeu, e agora se volta para o Brasil, com mercado interno crescente e boas perspectivas econômicas. A empresa Du Pont, também de origem norte-americana, que está no Brasil há 73 anos, inaugurou em 2009 um Centro de Inovação e Tecnologia (CIT) na cidade de Paulínia, no interior paulista, próxima de Campinas. “Nos últimos 10 anos a matriz tem direcionado capital de investimento para construção de centros de pesquisa corporativa em regiões emergentes e o Brasil faz parte desse grupo”, diz Ariana Bottura, gerente do CIT da Du Pont. O novo centro, que recebeu investimentos de R$ 4,5 milhões, tem o objetivo de desenvolver novas soluções, de forma mais rápida, para clientes da empresa detentora de um amplo leque de atividades industriais nas áreas alimentícia, biotecnológica, de polímeros, química e de tintas. Atualmente 42 profissionais trabalham diretamente em atividades de P&D no centro. A importância desses centros para o Brasil está no crescimento do nível da tecnologia produzida por empresas aqui e na contratação de centenas de pesquisadores brasileiros, em grande parte com doutorado. “Em ordem crescente de complexidade das atividades tecnológicas das empresas multinacionais instaladas no Brasil, numa escala de 1 a 5, a grande parte está concentrada nas faixas 3 e 4, poucas na 1 e 2, e raras na 5”, diz o professor Sérgio Robles Reis Queiroz, do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e ex-secretário adjunto de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo. Ele coordenou ao longo de seis anos, de 2004 a 2009, dois estudos sobre as atividades tecnológicas de filiais brasileiras de multinacionais, financiados pela Fapesp e pela Finep. “Analisamos principalmente o que atrai as subsidiárias a trazer para o Brasil investimentos em P&D”, diz Queiroz. Nos estudos, o grupo do professor desenvolveu um questionário eletrônico respondido por 89 empresas e um levantamento por meio de entrevistas com 55 empresas filiais de multinacionais durante o ano de 2007. O nome das empresas, por acordo mútuo, não pode ser revelado. Os resultados indicaram que o fator mais decisivo para uma empresa se instalar no Brasil é a boa oferta de mão de obra qualificada, que tenha competência técnica, capacidade criativa e flexibilidade. Para a IBM, o fator “disponibilidade de doutores” pesou favoravelmente na aprovação do centro de P&D no Brasil. “A concentração de doutores no país é realmente importante. Vamos precisar de pessoal que saiba fazer pesquisa”, diz Claudio Pinhanez, pesquisador que está trabalhando diretamente na consolidação do IBM Research-Brasil. Formado na USP em matemática e ciência da computação e com doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), ele trabalhou nove anos no Centro de Pesquisa Watson, que é o principal centro de pesquisas da IBM nos Estados Unidos. A empresa ainda tem mais dois centros nesse país, além de outros cinco distribuídos entre China, Israel, Índia, Japão e Suíça. Por enquanto, as atividades do centro da IBM no Brasil estão sendo realizadas nas sedes da empresa em São Paulo e no Rio de Janeiro. Ainda sem especificar quantos pesquisadores serão contratados, Pinhanez diz que o laboratório será de grande porte no Brasil e vai se estruturar em pesquisas ligadas ao desenvolvimento de tecnologias e sistemas para processar informações e dar apoio logístico à área de recursos naturais com prioridades na exploração de petróleo e mineração e ao que ele chama de sistemas humanos em áreas de apoio logístico para enfrentar desafios nos setores de tráfego aéreo, trânsito nas grandes cidades, medicina, finanças, além de soluções para grandes eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas a serem realizadas no Brasil. Outra área é o estudo de semicondutores para sensores e dispositivos que auxiliem esses sistemas. “Para isso vamos atrair os melhores profissionais”, garante Pinhanez. Até o mês de agosto, os dirigentes da GE no Brasil ainda não comentavam os detalhes de seu primeiro centro de tecnologia na América Latina. A empresa atua nos setores de eletrodomésticos, motores de avião e equipamentos médicos e, por meio de um comunicado, revelou que o centro no Brasil será o quinto do mundo, além dos existentes nos Estados Unidos, Alemanha, Índia e China, que somam ao todo mais de 2.500 pesquisadores. No comunicado, a GE indica que o Brasil foi escolhido porque possui uma forte base industrial, universidades de primeira linha e importantes clientes na indústria. GE, IBM e Du Pont são exemplos do alto investimento de P&D de empresas norte-americanas em suas filiais no exterior. O Brasil está em 16° lugar nesses investimentos, entre 2002 e 2006, como mostra o relatório Science and Engineering Indicators 2010, da Fundação Nacional de Ciência (NSF). (Fonte: Revista Pesquisa Fapesp)

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