É uma imagem simbólica: construída para produzir aparelhos de TV LCD, a mais sofisticada das fábricas da Sharp, em Kameyama, região central do Japão, deposita suas esperanças de sobrevivência na fabricação de painéis para iPhones e iPads. A empresa sempre foi um dos ícones da vanguarda japonesa no universo dos eletrônicos. Perdeu, no entanto, o bonde dos smartphones, entre outras revoluções digitais, e passou a ser sinônimo da crise enfrentada pelos equipamentos japoneses. Os últimos números da Sharp, combinados aos desanimadores resultados de outros dois gigantes nacionais, Panasonic e Sony, confirmam o início de uma nova era menos dourada para o que já foi um império tecnológico. Os produtos japoneses mantêm a alta qualidade, mas o setor foi atropelado por erros estratégicos, valorização do iene e concorrência de rivais que oferecem preços melhores ou mais inovação. Agravado pela queda do consumo global, o declínio nunca ficou tão claro como nesta reta final de 2012. A Sharp espera prejuízo anual de US$ 5,6 bilhões pior resultado de seus 100 anos de história. A Panasonic deve ter perdas de US$ 9,6 bilhões. A Sony anunciou perdas de US$ 194 milhões no trimestre. É uma corrida contra o tempo para o trio composto pelos maiores fabricantes de TV do Japão. Enquanto Apple e Samsung disparam na bilionária corrida mundial da tecnologia, as corporações japonesas mergulham numa dolorosa reestruturação, com fábricas fechadas, demissões, incentivo à aposentadoria e pagamento de bônus suspenso. Seus novos presidentes dispostos a quebrar tabus numa sociedade conhecida por reagir lentamente às mudanças reconhecem que são necessárias medidas drásticas para escapar do que os analistas chamam de espiral da morte. Qual é a cara da Sony hoje? É uma empresa de eletrônicos? De entretenimento? De games? A Sony tem hoje muitas caras e se esse problema não for não for resolvido, não há como ressuscitar a marca, diz o jornalista Yasunori Tateishi, autor do livro “Sayonara, nossa Sony, sobre a crise da companhia que criou o walkman. Mudando conceitos O conceito tradicional de que qualidade garante vendas está ultrapassado. A indústria parece não ter a menor ideia de que tipo de produto pode conquistar corações e mentes dos consumidores, resumiu, num editorial, o jornal Asahi Shimbun, um dos mais influentes do Japão. O analista Michael Smitka, especializado em economia japonesa, lembra que, após sucessos estrondosos, a Sony financiou empreendimentos que não trouxeram grande inovação. A mesma análise valeria para a Panasonic, diz o professor, diretor de Estudos Asiáticos da Washington and Lee University, em Virginia, nos Estados Unidos. A Panasonic investiu em muitas áreas diferentes, e manter o controle ficou difícil. Demoraram para desistir dos produtos que não eram competitivos. Também é necessário ter sorte, construindo, por exemplo, a fábrica de semicondutores certa na hora certa. E eles não tiveram essa sorte, avalia Smitka. Kazuo Hirai, que assumiu o posto de CEO da Sony em abril, está apostando suas fichas em câmeras, games e celulares. A Panasonic, que emprega 300 mil pessoas, também partiu para uma tática de guerra, prometendo eliminar as unidades que não conseguirem pelo menos 5% de lucro. A Sharp se juntou à taiwanesa Hon Hai e foca nas telas de cristal líquido para tablets e smartphones. Num mundo em mutação, com os gadgets tomando o espaço de aparelhos tradicionais, o mercado de TVs, que já foi a principal fonte de lucros dessas companhias, encolhe. O CEO da Panasonic, Kazuhiro Tsuga, no cargo desde junho, chocou os japoneses, pouco acostumados a uma linguagem tão direta, ao classificar sua empresa como uma perdedora no setor de eletrônicos. Cometemos erros nas decisões sobre investimentos e na maneira como reagimos às mudanças no mercado, reconheceu. Sharp depende de ajuda oficial A Sharp também admitiu, em outra frase emblemática, dúvidas materiais sobre sua capacidade de sobrevivência. Ao longo da semana, cresceram os rumores de que a companhia fabricante do primeiro aparelho de TV do Japão, em 1953 precisará de ajuda do governo para não quebrar. Como empresas verticalmente integradas, os japoneses investiram em tecnologias específicas, tornando-se prisoneiros de um processo de fabricação. Companhias que não insistiram em fazer suas próprias telas e monitores têm mais flexibilidade, explica Smitka. A disputa territorial com a China em torno de um pequeno conjunto de ilhas no Pacífico agravou o quadro das exportações japonesas. Juntas, Sony, Panasonic e Sharp valem hoje US$ 29 bilhões. O valor de mercado da Apple está na casa dos US$ 600 bilhões. (Com informações do O Globo)

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