Falar de inovação no Brasil parece ser mais fácil do que fazer, tanto para as empresas quanto para o governo. Esse foi o tom do painel de autoridades entitulado “O desafio de inovar no Brasil”, na tarde desta segunda-feira na XIII Conferência da Anpei. Marcos Guerra, presidente da Federação das Indústrias abriu o debate destacando que houve uma falsa ilusão na economia brasileira entre os anos de 2003 e 2010 de que tudo andava bem. “Muitos recursos entraram por causa das commodities, mas agora é a realidade é outra”, ponderou. “Nosso PIB cresceu 43%, o salário mínimo subiu 70%, a folha de pagamento teve 36% de ganho real e a produtividade aumentou 21% em dez anos”, assinalou. “Mesmo com todos esses ganhos, ainda não temos uma causa para investir em inovação, pelo contrário, o Brasil passa por um processo de desindustrialização”, disse. “Precisamos inovar nas empresas, mas também no Congresso, no Senado e no executivo — estamos ansiosos para ouvir o que será feito para desburocratizar o crédito.” Para responder à questão, David Kupfer, assessor da presidência do BNDES, representando a instituição, explicou que o Brasil passa pela terceira fase do desafio da inovação. “Há 30 anos a inovação não era nada, batíamos nessa tecla em pleno deserto”, disse. “Na década de 1990, o assunto surgiu com mais evidência e passamos para a segunda fase — inovação passou a ser tudo, a solução para todos os males, o que também não é muito diferente de ser nada”, disse Kupfer. “Agora, talvez há poucos anos, estejamos na terceira fase: a inovação passou a ter uma função sócioeconômica e existem meios para se chegar até ela”, destacou. “O que falta para ganhar velocidade nesse momento é mãos à obra.” Um dos entraves para a inovação no Brasil, na opinião de Jadir Péla, secretário de Ciência, Tecnologia, e Inovação do Espírito Santo, é que a questão não recebe caráter especial na legislação brasileira. Junto com outros secretários de outros estados na mesma pasta, Péla apresentou um novo código em 2011. “Não é possível fazer Ciência, Tecnologia e Inovação sob a mesma legislação que regem os contratos tradicionais”, disse. Péla citou como exemplo uma empresa que precisa adquirir um equipamento que faz parte de um processo de inovação e passa pelas mesmas burocracias, como se fosse uma compra normal. “Precisamos desse caráter especial para dar a velocidade que precisamos — as estruturas estão sendo criadas.” Carlos Alberto Santos, diretor técnico do Sebrae Nacional, apontou a falta de recursos financeiros, o aporte de capital, empréstimos e linhas de crédito como grandes dificuldades de adequar tecnologia e oportunidades no Brasil. Mas também admitiu que as empresas ainda precisam tratar a inovação como questão central dos negócios, algo que seja permanente e cotidiano. “Precisamos que as empresas superem os problemas básicos de gestão e passem a olhar mais para frente, em busca de diferenciais competitivos.” O que o Brasil poderia fazer mais? Essa foi a pergunta que Glauco Arbix, presidente da Finep, fez ao painel. “Seria muito tranquilo para qualquer um de nós levantar um rosário de problemas que enfrentamos”, disse. “Temos problemas na iniciativa privada e no governo, aqui e fora do país”, destacou. De acordo com Arbix, o Brasil precisa crescer mais intensamente e, apesar das falhas do governo, as empresas têm muito o que fazer. “Num universo de 3 milhões de empresas, apenas 2.000 inovam sistematicamente”, apontou Arbix. “Dessas, 6% praticam inovação com recursos públicos — a média em países desenvolvidos é de 50%”. Para o presidente da Finep, as empresas brasileiras não têm estrutura para inovar. “A maioria possui hierarquia engessada e falta cultura e agilidade de inovação”, disse.

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