No começo de outubro, durante a parada de comemoração do 60º aniversário da República Popular da China, tanques e mísseis passaram diante da Cidade Proibida e pela avenida Chang’an, em Pequim. Batalhões de soldados desfilaram em passo de ganso em perfeita harmonia. No céu, caças voavam em formação. Mas logo atrás dessa extravagância militar estavam carros pesados exibindo um lado menos bélico da China, que suas lideranças chamam de “inovações nativas”. Em um deles, um microscópio de 2,5 metros de altura, tubos de ensaio gigantes cheios de um líquido azul e um telescópio branco simbolizavam as conquistas científicas e tecnológicas da China. Outro carro tinha uma réplica de um trem-bala e um jato de passageiros, representando as ambições da China na área de transporte. Um carro dedicado às energias renováveis estava cheio de moinhos de vento e plataformas de petróleo, cercado por centenas de trabalhadores do setor de energia com capacetes vermelhos, cada um deles carregando um painel solar. Em um palco acima do retrato gigante de Mao Tsé-tung no portão da Paz Celestial, o presidente Hu Jintao assistia o desfile. “O povo chinês se ergueu”, disse Hu, citando Mao, que disse essas palavras no mesmo lugar 60 anos antes. Essa sensação de triunfo permeia a China hoje em dia. A rápida recuperação da economia da China continental, depois da explosão da crise financeira mundial, parece ter vingado sua marca de capitalismo liderado pelo Estado. Enquanto o Ocidente luta para se recuperar, a China caminha para crescer 8% este ano, preparando-se para tomar o lugar do Japão de segunda maior economia do mundo – e o da Alemanha de maior exportador. Agora a China continental está entrando em novos setores, anunciando companhias aéreas domésticas, carros elétricos e trens de alta velocidade. Mas uma investigação das estatísticas e o alarde em relação aos avanços em setores estratégicos mostram que a China não parece estar preparada para ser catapultada a uma posição de liderança econômica mundial. Especialistas familiarizados com as conquistas que os chineses vêm perseguindo ativamente dizem que as tecnologias que as sustentam foram em grande parte desenvolvidas em outros países. Não há a Sony chinesa, uma Toyota ou uma Samsung no horizonte. Embora o pacote de estímulo de US$ 586 bilhões do governo chinês e um aumento de 150% nos empréstimos bancários estejam estimulando um crescimento impressionante, “a questão”, segundo Stephen Roach, presidente do conselho de administração do Morgan Stanley na Ásia, “é a qualidade desse crescimento”. Para os especialistas, a China tem um longo caminho a percorrer em inovação. O continente aumentou dramaticamente os gastos com pesquisas e exibe o maior número de profissionais formados em ciências e engenharia. Mas além de jogos da internet, o país cria poucos produtos inovadores, graças em grande medida ao problema perene da pirataria desenfreada. No ano passado, a China exportou US$ 416 bilhões em produtos de alta tecnologia. Mas, subtraindo as operações da China continental das atividades das empresas de Taiwan que operam sob contrato e as contribuições de empresas como a Nokia, Samsung e Hewlett-Packard (HP), a China vira um peso-leve em produtos eletrônicos. Além da cerveja Tsingtao e dos refrigeradores baratos Haier, “a China tem presença nula nos EUA”, afirma Kenneth J. DeWoskin, diretor do China Research & Insight Centre da Deloitte & Touche. Em vez disso, a maior parte das companhias da China continental explora tecnologias já existentes e competem com os grandes volumes e custos baixos nos mercados de commodities. Em razão dos muitos sinais de progresso da China, é fácil esquecer que ela continua sendo uma economia subdesenvolvida que enfrenta desafios enormes. Sim, ela possui uma população imensa e jovem, empresários e cientistas talentosos, um governo ambicioso – e muito dinheiro. Portanto, é provável que o governo acerte na fórmula algum dia. Mas as reformas econômicas da China já levam três décadas. Isso é bem mais que o tempo que Mao Tsé-tung e seus seguidores levara para impor sua marca extrema de socialismo. “O Japão e a Coreia do Sul levaram 30 anos para realizarem uma transformação parecida” para uma economia conduzida pela inovação, pelos gastos do consumidor e pelos serviços, diz Ding Li, economista da Academia de Ciências Sociais de Guangdong. “Nossas expectativas não podem ser altas demais. (Fonte: Valor Econômico)

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