Em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, professores do Instituto de Economia da Unicamp fazem ressalvas às ideias dos autores do livro Time for a visible hand, lançado em fevereiro no Brasil. Leia o artigo na íntegra: Repercutiu na imprensa o lançamento do livro Time for a Visible Hand, editado por Joseph Stiglitz e José Ocampo, com um alerta de que os países não podem basear suas estratégias de desenvolvimento e redução da pobreza no setor agrícola, em recursos naturais e/ou no comércio de commodities. Para o destacado economista Giovanni Dosi, que participa do livro, o “setor agrícola tem claros limites e nossa recomendação é para que nenhum país emergente dependa do setor para sair da condição de subdesenvolvimento”. O Brasil precisa de “mais Embraers” e deveria compensar as desvantagens em relação à China e à Índia promovendo os setores de alta tecnologia. Ainda não tivemos acesso ao livro e fazemos os comentários abaixo com base em resumos e declarações publicadas. A recomendação – quase um clichê desenvolvimentista – de que os países não deveriam definir estratégias de desenvolvimento baseadas na utilização de recursos naturais, além de irrealista, pode motivar políticas equivocadas. Basta lembrar os efeitos desastrosos da recente taxação às exportações agrícolas pelo governo argentino. É irrealista porque o processo de industrialização e a verdadeira dinamização do setor serviços baseada em tecnologia originam-se de trajetórias que não existem, nem como possibilidade remota, para um grande número de países. Em mais de um artigo, neste espaço, temos insistido em que a visão que contrapõe agropecuária, exploração de recursos naturais e comércio de commodities ao desenvolvimento de setores de alta tecnologia, como se fossem trajetórias excludentes, é equivocada. No passado, o arranjo de políticas desenvolvimentistas continha trade offs setoriais e exigia opções duras em favor de certos segmentos que implicavam restrições a outros. A política de câmbio pró-substituição de importações prejudicou o desenvolvimento da agropecuária, que contou com políticas compensatórias cujos efeitos sociais e econômicos negativos são amplamente reconhecidos e incluem desde a concentração da propriedade e da renda, a migração massiva e acelerada, até o crescimento horizontal predatório, que só vem sendo superado nas duas últimas décadas em razão da inovação tecnológica. Hoje o dinamismo do agronegócio se apoia e favorece os setores de alta tecnologia, e não há por que não incorporá-lo às estratégias de desenvolvimento dos países. A Petrobrás é um bom exemplo do falso dilema entre exploração de recursos naturais e alta tecnologia. Qualquer jovem da nossa idade estudou há 50 anos que o Brasil era pobre em petróleo e, se hoje temos até pré-sal, isso se deve à aplicação de tecnologia para mapear e se apropriar de recursos naturais. Imagine o potencial de uma estratégia de desenvolvimento e combate à pobreza baseada na exploração sustentável de recursos naturais da Amazônia, com base em bioprospecção e biotecnologia? Ainda que os ambientalistas apontem, com certa razão, que no mundo de hoje a natureza adquiriu valor intrínseco, o fato é que sua transformação em riqueza só é possível com a aplicação de conhecimento, tecnologia de ponta e inovação institucional. Mais Embraers? São, obviamente, bem-vindas. Ocorre que todos os exemplos de projetos exitosos em setores que envolvem o uso e o domínio de alta tecnologia – da Petrobrás, Embraer, Embrapa/Agricultura, Braskem, Brazil Foods, etc. -, baseados ou não em recursos naturais, são resultado de décadas de amadurecimento, contaram com políticas públicas relevantes e participação ativa do setor privado, de instituições de ensino e pesquisa e de empresas públicas e privadas. Mesmo reconhecendo progressos significativos nos últimos dez anos, em que se destacam os Fundos Setoriais de CT&I (2000-2002), a equalização de taxas de juros do Fundo Verde-Amarelo (2002) e a Lei de Inovação (2004), o Brasil continua distante de um arranjo favorável à inovação. Entre 48 países, o Brasil é o 42º em matéria de inovação (estudo da OCDE, 11/2009). Mais ainda, a Carta Iedi nº 402 (12/2) revela que poucas empresas inovam e que o porcentual do PIB investido em pesquisa e desenvolvimento (P&D) está bem abaixo dos nossos concorrentes. Isso para não falar do sistema educacional que não consegue ensinar Matemática – linguagem básica da ciência – à maioria dos nossos jovens que concluem o ensino médio e que ainda não são a maioria. _________________________________________________________________ Antonio Marcio Buainain e José Maria da Silveira são professores do Instituto de Economia da Unicamp.

Av. Prof. Almeida Prado, 532
Prédio 53 – Butantã – 05508-901
Comunicação: comunicacao@anpei.org.br
Gabriela – +55 11 98886-6581
relacionamento@anpei.org.br
© 2024 ANPEI - Todos os direitos reservados.