07/12/2016
O Instituto Nacional de Tecnologia (INT/MCTIC) completa, neste mês, 95 anos de existência. Marcando o aniversário, o Instituto realizou na última segunda-feira, 5/12, em sua sede no Rio de Janeiro, o Seminário INT do Futuro, discutindo o papel das pesquisas tecnológicas no contexto de transformações da Ciência, Tecnologia e Inovação. Na abertura, representando o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento, Jailson Bittencourt de Andrade, destacou não só a história relevante, mas também a qualidade e diversidade do trabalho atualmente desenvolvido pelo INT.
Tendo na plateia, dirigentes de várias outras unidades de pesquisa, universidades e ex-diretores do INT, além de outras autoridades e servidores do Instituto, o evento contou com a participação de três palestrantes convidados com experiências voltadas ao futuro: o engenheiro químico Jorge Lopes da Silva, pesquisador do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI/MCTIC); o físico Luiz Alberto de Oliveira, curador do Museu do Amanhã; e o engenheiro metalúrgico Augusto Carvalho, empresário do setor de cidades inteligentes.
Na palestra de abertura, do diretor do INT, Fernando Rizzo reforçou a característica do Instituto de organização transdisciplinar, que estimula a articulação e cooperação entre suas competências internas para o desenvolvimento de soluções inovadoras, estando atenta aos grandes desafios da revolução digital e da sustentabilidade. Fernando Rizzo também destacou propostas que norteiam futuros esforços do Instituto: incrementar a internacionalização visando excelência nos focos de atuação; ampliar a participação no programa da Embrapii (incluindo áreas como saúde, gestão e design); e elaborar um plano de capacitação em manufatura aditiva de ICTs para atendimento à demanda industrial e a difusão da tecnologia no setor.
O diretor do INT também reforçou a intenção de consolidar o Instituto como uma âncora tecnológica do Porto do Rio, aproveitando a revitalização da área ocorrida nos últimos anos, associada a novos espaços de ciência, cultura e economia criativa que surgiram na região.
O futuro
Pesquisador do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI/MCTIC) desde 1988, o engenheiro eletricista Jorge Vicente Lopes da Silva desenvolve trabalhos importantes nas áreas de automação industrial e robótica. Doutor em Engenharia Química e mestre em Engenharia Elétrica e Computação pela Unicamp, ele criou e coordena a Divisão de Tecnologias Tridimensionais do CTI, que desenvolve três grandes programas de P,D&I em impressão 3D direcionados aos setores de Saúde/Medicina – colaborando com 200 hospitais, com apoio do Ministério da Saúde, e atuando nas áreas de desenvolvimento de software 3D, bioengenharia e biofabricação –; Indústria (ProIND) – com foco nas pequenas e médias empresas para desenvolvimento de produtos –; e Universidade e Centros de Pesquisa, atuando na inovação e viabilização de experimentos científicos.
Apresentando o tema “Manufatura Aditiva: Perspectivas e oportunidades para o Brasil”, Jorge Lopes da Silva destacou os possíveis impactos da Indústria 4.0, constituída por Sistemas Ciber-Físicos (CPS), que integram o mundo digital à possibilidade de produção remota de variados tipos de objetos. O pesquisador destacou o avanço do desenvolvimento da biofabricação, que em breve poderá criar órgãos do corpo humano; e o trabalho de desenvolvimento de próteses médicas, que culminou com o desenvolvimento do software livre InVesalius, disponibilizado pelo CTI, que contribui para disseminar essa tecnologia em todo o mundo.
Curador do Museu do Amanhã, o físico Luiz Alberto Rezende de Oliveira apresentou “Seis tendências para os próximos decênios”. Segundo o doutor em Cosmologia, antes pesquisador do Instituto de Cosmologia, Relatividade e Astrofísica (Icra) do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF/MCTI), o futuro não é linear, mas pode ser modelado por tendências que vêm se projetando para as próximas décadas: 1) mudanças climáticas, que impõem a necessidade da opção crescente por fontes de energia limpas e renováveis; 2) alteração da biodiversidade, com ameaça de extinção de 25% das espécies de mamíferos e desertificação dos oceanos; 3) crescimento da população e da longevidade, que deverá mudar relações de trabalho e vida nas cidades; 4) integração e diferenciação dos povos, ampliadas pelas cidades cada vez mais conectadas; 5) aumento do número e qualidade dos artefatos, com possibilidades de incorporação entre biologia e cibernética, sentidos artificiais e incremento das manipulações genéticas; 6) expansão do conhecimento, que pode se ampliar pelos meios digitais e mesmo através da exploração espacial.
Sócio fundador da Smarter Solution, Augusto Carvalho, apresentou a palestra Cidade Inteligente: a Disruptura Tecnológica, mostrando tecnologias que já são usadas em projetos como o “Eu Comunidade”, desenvolvido pela empresa para a Prefeitura do Rio de Janeiro, em parceria com a Intel e Cisco. Engenheiro metalúrgico de formação, com mestrado em Engenharia Metalúrgica pela PUC-Rio, MBA em Administração pela Kellogg School of Management (Chicago, EUA) e 22 anos de experiência na IBM, o empresário destaca que a digitalização do mundo está afetando a forma de produção, ao mesmo tempo em que o crescimento desordenado ameaça a sustentabilidade das cidades. Entre as tecnologias emergentes, que viabilizam a Indústria 4.0, Augusto Carvalho destaca a internet das coisas (IOT) e os analíticos, aplicativos que descrevem situações, analisam, fazem previsões e indicam possíveis soluções para temas diversos. Indica a possibilidade de consolidação de analíticos setoriais, que reúnam conhecimentos de setores industriais, indicando perspectivas para os negócios. No caso das cidades, o empresário acredita que a tecnologia pode otimizar sua gestão, tornando-as de digitais a inteligentes, e de inteligentes a humanas, convergindo esforços para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
95 anos de inovação
Fundado como Estação Experimental de Combustíveis e Minérios (EECM), o INT surgiu no então Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio com intuito de aprimorar processos industriais de aproveitamento de recursos minerais e combustíveis no Brasil. Seus estudos viabilizam o uso do carvão nacional, assim como xisto, manganês e suas ligas e outras fontes disponíveis no território brasileiro. Ainda em sua primeira década, o INT realiza os primeiros ensaios do uso de álcool combustível em veículos, seguidos dos testes das primeira misturas de álcool na gasolina, que deram base para o governo Vargas, em 1931, tornar obrigatória a adição 5% de etanol à gasolina. Ainda naquela época foram produzidos os primeiros estudos de uso de óleos vegetais como combustíveis. Dentro do INT, surgem também as primeiras reuniões e grupos de trabalho em metrologia, normatização de ensaios de materiais e registro de patentes, que dariam origem à Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), ao Instituto Nacional de Pesos e Medidas (INPM) – depois transformado em Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) – e ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Ao longo das décadas, o INT mantém essa atuação estratégica voltada para a inovação e o desenvolvimento tecnológico do País. O Instituto contribui, por exemplo, para episódios marcantes como a constatação de haver petróleo no Brasil, a partir da análise do óleo encontrado em Lobato (BA) e o desenvolvimento de método internacional de ensaio de concreto. Mais recente, temos o levantamento antropométrico da população brasileira, a validação tecnológica do Proálcool, o suporte ao programa de uso do biodiesel e o uso pioneiro no Brasil das impressoras 3D para criação de protótipos industriais e outros fins. Acima de tudo, o Instituto tem uma história constante de apoio ao setor produtivo por parte do Governo Federal, hoje através do MCTIC, gerando e disseminando soluções tecnológicas inovadoras, oferecendo serviços técnicos especializados e certificando produtos.
Destaca-se hoje a atuação do INT como unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), apoiando empresas no desenvolvimento de produtos e processos inovadores em Tecnologia Química Industrial. A infraestrutura do Instituto conta com 20 laboratórios, organizados em conformidade com rígidos padrões de qualidade industrial, e que agregam profissionais altamente capacitados. O INT dispõe ainda do Centro de Caracterização em Nanotecnologia em Materiais e Catálise (Cenano), que conta com o status de Laboratório Estratégico do MCTIC, integrando o Sistema Nacional de Nanotecnologia (Sisnano). Atuando na prestação de serviços e desenvolvimento de tecnologias em dimensões nanométricas, este centro hoje é um importante insumo para a obtenção de novos materiais, aços e cerâmicas, além de propor soluções inovadoras em nanoquímica.
(INT)