Norte-americano aponta em seminário pontos para se desenvolver regiões inovadoras; brasileiros destacam a importância de se olhar para a realidade local e promover a interação entre universidade empresa. Criar um ambiente propício para a inovação requer o desenvolvimento de determinadas características em uma mesma região. Esse foi o recado do co-diretor do Stanford Program on Regions of Innovation and Entrepreneurship, William Miller, durante o XVIII Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas. O evento aconteceu no final de setembro em Aracaju. No painel “Construindo Regiões Empreendedoras e Inovadoras”, o professor Miller, por meio de videoconferência, destacou os passos necessários para se desenvolver regiões produtoras de alta tecnologia. A partir da experiência do Vale do Silício – região da Califórnia (EUA) onde há um conjunto de empresas implantadas -, ele citou características que são essenciais, em qualquer parte do mundo, para se ter empreendimentos inovadores de sucesso. Em um ambiente empreendedor, a interação entre universidade e indústria precisa ser plena. Há ainda a necessidade de políticas governamentais favoráveis, como políticas tributárias, trabalhistas e de propriedade intelectual. Segundo Miller, também é importante haver uma política orientada para resultados. “Para isso, os indivíduos devem ser premiados por aquilo que sabem fazer bem. Essa é uma das razões do Vale do Silício ser tão atraente para os estrangeiros”, salientou. Um ponto de destaque seria a existência de uma força de trabalho flexível. A idéia é que os trabalhadores pudessem trocar de empresas para poder usar toda a sua capacidade, o seu potencial máximo, sem que tivesse perdas por isso. Por exemplo, os planos de saúde e os fundos de pensão acompanhariam essa mudança, seguiriam com o trabalhador, de maneira que ele não os perdesse ao trocar de empresa. A existência de um clima onde os riscos são premiados também foi citada por Miller. “As falhas são comuns quando se trabalha com alta tecnologia. Por isso, elas não devem ser consideradas como uma característica negativa. É importante vermos o que se aprende com as falhas”, ressaltou. “Os indivíduos bem-sucedidos tratam as falhas como meio de aprendizado”, completou. Mas Miller reconhece também que em alguns países pode ser mais difícil recomeçar após uma falha. “Isso pode gerar dificuldade de se conseguir um novo financiamento, por exemplo, o que é um grande obstáculo e uma atitude negativa à inovação”, disse. Um ambiente empresarial aberto também pode contribuir com a inovação. Nesse espaço, as pessoas têm mais liberdade de compartilhar o conhecimento, criando um aprendizado coletivo. Além disso, a colaboração entre empresas, governo e redes sem fins lucrativos é importante para o desenvolvimento da região. Há ainda a importância de se reunir serviços especializados de infra-estrutura, como contabilistas, consultores jurídicos, para prestar apoio a empresas de alta tecnologia. Isso facilita o crescimento dessas empresas e da região que está sendo desenvolvida. O palestrante lembrou que qualidade de vida também é uma característica importante para a atração de profissionais competentes para trabalhar com inovação em determinada localidade. A liderança local também tem papel de destaque nesse desenvolvimento e ela precisa ter as características locais, precisa ser realmente uma liderança da comunidade. Também não se pode deixar de fazer as chamadas conexões globais que seria reunir as melhores atividades em melhores localidades e permitir conexões com os países de origem dos empreendedores. “Isso traz a necessidade também de melhores políticas de imigração para permitir essas conexões de forma mais aberta”, afirmou. Universidade e empresa no Brasil Para Miller, o Brasil é um país muito interessante e que traz grandes oportunidades em áreas como tecnologia limpa e produção de biocombustíveis. Ele também alerta para a importância de o País trabalhar com atividades ligadas à prática de uma agricultura mais eficiente e de processos industriais mais eficientes. “Acho que com suas características o Brasil pode, nos próximos anos, se tornar um país de atração”, disse. Ele destacou também que as universidades brasileiras são mais fortes que as encontradas em Taiwan, quando eles começaram a participar do Vale do Silício. “É preciso ressaltar o papel da interação universidade-indústria, fazendo com que os professores e pesquisadores vivenciem a importância de ver a pesquisa chegar ao uso industrial”, afirmou. Essa interação ainda é vista no País como um grande gargalo. Maria Ângela Campelo de Melo, do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), que contribuiu com o debate, destacou que nas universidades brasileiras o professor ainda é valorizado pelo número de publicações científicas em espaços internacionais. “Falta o prestígio para aqueles que estão preocupados em resolver problemas tecnológicos de empresas, em desenvolver o País”, destacou Maria Ângela. “Em um ambiente baseado em resultados, poderemos aprimorar esse relacionamento”, completou. Outro problema apontado por ela é que a preocupação com inovar não pode virar na inovação pela inovação. Isso pode ser contraprodutivo, principalmente, ao falarmos de desenvolvimento sustentável. Termos um celular novo a cada dia, por exemplo, gera muito lixo eletrônico. Por isso, precisamos buscar a inovação que se preocupe com o meio ambiente e que agregue realmente um valor”, disse. Continuação…

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