Texto publicado em 26 de janeiro apresenta fragilidades do setor industrial brasileiro na comparação com os países desenvolvidos. A seguir, a íntegra do editorial: O setor industrial que mais tem impulsionado a competitividade e o crescimento das economias modernas é o de informática e telecomunicações. É nele que se concentram 35% de tudo o que o mundo investe em pesquisa e desenvolvimento. “Esse setor é chave não só pela inovação, mas também porque tem um impacto profundo sobre a competitividade”, avalia a pesquisadora Fernanda De Negri, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), cujos estudos servirão de base para a elaboração da parte da política industrial do governo voltada para o setor. O objetivo dessa política, conforme reportagem de Lu Aiko Otta publicada dia 16 no Estado, é fazer a indústria brasileira produzir itens com grande potencial de vendas e dar-lhe condições para competir com as gigantes internacionais do setor. Confrontado com a realidade econômica brasileira, o objetivo parece ambicioso demais. São muitas as desvantagens iniciais da indústria nacional, como reconhece a pesquisadora do Ipea. As empresas brasileiras têm dimensões modestas, quando comparadas às dos fornecedores mundiais seu faturamento médio é de R$ 20 milhões por ano, contra dezenas de bilhões de dólares dos grupos internacionais , e geralmente ocupam nichos do mercado. Sua produção é concentrada em alguns itens, enquanto os grandes grupos têm uma diversificada linha de produtos, de celulares a equipamentos de grande porte para operadoras de telecomunicações. As empresas brasileiras trabalham para determinados clientes, ao passo que as grandes indústrias internacionais fornecem para operadoras, governos, empresas de porte variado e o público em geral. Além dessas dificuldades, as empresas brasileiras terão de superar outras, entre elas a falta de uma retaguarda em pesquisa tecnológica, na qual se baseou o crescimento das gigantes que atuam no mercado mundial. Recente relatório divulgado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que, apesar de avanços em algumas áreas, o desempenho do Brasil na área de pesquisa e desenvolvimento mostra muitos pontos fracos. Ainda se investe pouco, falta pessoal qualificado, é baixa a produção de patentes e continua muito pequena a participação do setor privado nos investimentos em ciência e tecnologia. O relatório da OCDE mostra que a fonte dos recursos para pesquisa e desenvolvimento varia muito entre os países analisados (os membros da organização e as principais economias que não a integram, como Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul). Em alguns, como Portugal e Polônia, predomina nitidamente o investimento público. Num grupo de 13 países, entre os quais Itália, Noruega, Espanha e Canadá, o setor privado é responsável por uma fatia que varia de um terço à metade dos investimentos em pesquisa. Em oito países, entre os quais França, República Checa e Suécia, a iniciativa privada responde por metade a dois terços das aplicações. No último grupo, do qual fazem parte Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Coreia do Sul, Luxemburgo e Japão, as empresas privadas financiam mais de dois terços de todos os gastos com pesquisas. No Brasil, apesar dos incentivos fiscais, o setor privado responde por menos da metade das aplicações em ciência e tecnologia, que, em 2008, corresponderam a 1,1% do PIB (e apenas 0,1% em tecnologia de informação e de telecomunicações), índice muito baixo comparado com o da OCDE, de 2,3% do PIB. O Brasil produz poucas patentes e as empresas brasileiras são menos inovadoras isto é, colocam menos produtos novos no mercado do que as dos países da OCDE. Uma das mais agudas debilidades do País no campo da ciência e tecnologia está na formação de pessoal. Em 2007, os graduados nas áreas de ciência e engenharia representavam 11% dos recém-formados, um índice maior do que os dos anos anteriores, mas que corresponde a menos da metade da média da OCDE. De positivo, o Brasil registra crescente produção científica. Cresce também a proporção de doutores. Mas ainda é um avanço tímido diante do que o País precisa para poder competir com as economias mais modernas do planeta. (Fonte: O Estado de S. Paulo)

Av. Prof. Almeida Prado, 532
Prédio 53 – Butantã – 05508-901
Comunicação: comunicacao@anpei.org.br
Gabriela – +55 11 98886-6581
relacionamento@anpei.org.br
© 2024 ANPEI - Todos os direitos reservados.