Paraibana de fala firme, pensamento rápido e engajada no fortalecimento do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, Francilene Procópio Garcia é secretária executiva de Ciência e Tecnologia do Estado da Paraíba, presidente do Conselho de Secretários Estaduais para Assuntos de CT&I (Consecti) e da Associação Nacional das Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), cuja gestão se encerra em dezembro próximo após ter sido iniciada em 2011. Presidente da Anprotec é taxativa: “Não existe outro caminho para termos uma economia menos vulnerável à crises que não seja o investimento em empresas inovadoras e nos empreendimentos que nascem para apoiá-los”. Ela deixa a Anprotec no ano em que o evento anual da instituição migrou de Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de empresas para Conferência Anprotec de Empreendedorismo e Ambientes de Inovação para abranger a magnitude que ganhou. Neste ano, o evento, que completou 25 anos, foi realizado em Cuiabá (MT) e reuniu 687 pessoas de 17 países e 25 estados brasileiros. Em entrevista exclusiva à Agência Gestão CT&I, Francilene Garcia é franca. Ela faz uma análise sobre as políticas públicas de CT&I, os impactos das mudanças de gestão no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) – enquanto presidente da Anprotec ela atuou na gestão de cinco ministros -, e é enfática ao apontar as diretrizes para o país sair da crise. Não existe outro caminho para termos uma economia menos vulnerável à crises que não seja o investimento a quem de fato pode gerar novas fronteiras para o Brasil, que são as empresas e os empreendimentos inovadores. Presidente, a senhora passou pelas gestões dos ministros Aloizio Mercadante, Marco Antonio Raupp, Clelio Campolina, Aldo Rebelo e, agora, Celso Pansera. São cinco ministros em menos de cinco anos. Quais impactos essas mudanças implicam para o setor de CT&I? Infelizmente, por mais que a gente mostre que é necessário ter cautela, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação tem entrado no processo de negociação da governabilidade no poder Executivo. Como falta no Brasil condições de planejamento a médio e longo prazo, as estratégias se dispersam. Um exemplo é o Programa Nacional de Plataformas do Conhecimento (PNPC), que foi criado por um Decreto Presidencial, em 2014, durante a gestão do ministro Campolina, não saiu do papel e nem se discute se sairá. Precisamos de uma estratégia. Essa mudança permanente no ministério sem uma ótica mais de futuro acaba inibindo as conquistas que temos vivenciado nessa área nos últimos 25 anos. Isso pode gerar um impacto extremamente negativo na nação, que quando for observado pode ser tarde demais. O que falta na avaliação da senhora para o segmento de CT&I? A nossa realidade do exercício da política brasileira, seja no âmbito nacional, estadual e municipal, é que não temos uma política de inovação de médio e longo prazo. Países como a Coreia do Sul, que em menos de duas décadas deu um salto significativo na qualificação da educação, gerando impacto no empreendedorismo inovador, tiveram e têm essa capacidade de gerar e seguir planejamentos de médio e longo prazo. No Brasil, temos uma sequência de iniciativas que são descontinuadas, sendo que algumas delas nem entram em operação. As que entram, quando são descontinuadas, não têm um sistema de avaliação. Falta também ao país uma sistemática de avaliação de instrumentos de CT&I, isso é muito complicado e gera descontinuidade nos nossos ambientes. Afinal, tem-se o costume de partir para o planejamento e execução de uma nova iniciativa sem mesmo ser avaliado o que deu certo ou errado nos programas anteriores. Investir nas pequenas e micro empresas inovadoras e estimular a interação delas com as grandes companhias é um atalho para o Brasil sair da crise? Não existe outro caminho para termos uma economia menos vulnerável a crises que não seja o investimento a quem de fato pode gerar novos fronteiras para o Brasil. Trata-se de investir não apenas nas empresas inovadores com interesse em lucros, mas também nos empreendimentos que nascem para apoiá-los, que são os parques tecnológicos, incubadoras e novos ambientes de inovação, como Fab Labs, aceleradoras de empresas e modelos de corporate venture, que são grandes empresas que criam fundos investidores para apostar nas startups. Não existe outro caminho. Outras economias que cresceram em um curto espaço de tempo e se mantiverem num patamar top seguiram esse caminho. Mas temos que vencer todas as condições que são intrínsecas ao nosso país, que são a falta de planejamento, de avaliação e a descontinuidade de políticas de CT&I e instrumentos de fomento. O movimento do empreendedorismo inovador está consolidado, mas os desafios sempre existirão. Sobretudo em momentos de crise, quais são os desafios para a próxima gestão? Os desafios de quem promove o empreendedorismo inovador no Brasil são permanentes. Vou citar três. O primeiro é a continuidade das plataformas de internacionalização para atender ambientes de inovação e também os negócios apoiados. Esses ambientes se organizam por redes que oferecem espaços mútuos para que eles possam, além de receber empresas de fora, enviar companhias para espaços similares fora do Brasil. Isso é fundamental porque a porta de entrada em outros mercados acaba sendo ambientes de inovação lá. O outro ponto tem a ver com os novos cenários que o século XXI trazem entorno dos parques tecnológicos e incubadora, que são a geração de iniciativas complementares para apoiar de alguma forma a proliferação de negócios inovadores. Estamos falando de novos bichos, que a Iasp denomina como áreas de Inovação. Não são parques tecnológicos e incubadoras, mas atuam muito bem no apoio a empreendimentos inovadores. Por fim, criar uma sistemática de articulação e sinergia com esses novos espaços e outros atores do segmento de CT&I para que possamos agir de forma integrada. As próximas Conferências da Anprotec serão, respectivamente, no Ceará e no Rio de Janeiro. O que esperar? A Conferência de 2016 será em Fortaleza e marcará o retorno ao Nordeste. O Ceará é um estado que tem uma trajetória interessante pela capacidade de interiorizar o ensino superior e técnico com plataformas que dirigentes locais cultivaram há alguns anos. Embora não tenha um parque tecnológico, o estado tem uma rede de incubadoras bastante forte. Alí temos uma representatividade do que a região Nordeste vive em termos de rotas de desenvolvimento para suas economias. Será um evento importante. O evento de 2017, ano em que a Anprotec completa três décadas de atuação, acontece no estado onde a Anprotec nasceu. As pessoas que estiveram lá presentes, que ainda fazem parte do movimento, tem uma contribuição fundamental para tudo que se transformou esse ambiente em prol do empreendedorismo inovador. Será uma grata satisfação retornar ao Rio de Janeiro nesse ano comemorativo. (Felipe Linhares, da Agência Gestão CT&I)

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