O Brasil vem construindo um dos sistemas mais robustos de educação superior e de ciência e tecnologia (C&T) do mundo, mas ainda não está conseguindo apropriar-se amplamente desta conquista. Isso por conta de um grande descompasso entre a baixa capacidade de inovação das empresas e a alta competência científica das universidades brasileiras, mensurada pela crescente formação de alunos de pós-graduação, especialmente doutores. O cenário foi apresentado na conferência “Mercado de trabalho para recém-doutores”, proferida por José Oswaldo Siqueira, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq), em 28 de setembro, na Reunião Regional da SBPC em Lavras (MG). O docente da Universidade Federal de Lavras (Ufla), que falou sobre o papel das universidades no desenvolvimento tecnológico nacional, explicou que a pesquisa acadêmica contribui com novas descobertas, teóricas ou empíricas, mas raramente gera invenções específicas. Atualmente no Brasil, explicou, é alta a demanda por doutores no mercado de trabalho. Formamos, por ano, quase 12 mil doutores no Brasil e publicamos cerca de 40 mil artigos em revistas especializadas. A taxa de empregabilidade desses doutores é da ordem de 75%, sendo que os setores público e o da educação são os principais empregadores. Temos um mercado potencial para os doutores no País, mas eles ainda não estão fazendo pesquisa e desenvolvimento (P&D) que gere inovação tecnológica enquanto negócio nas empresas”, apontou. Siqueira divulgou um levantamento que mostra uma realidade inversa. De uma amostra de três mil empresas situadas no Vale do Silício, nos Estados Unidos, apenas 20 utilizaram tecnologias obtidas na academia, mais especificamente na Universidade de Stanford. “Em linhas gerais, apenas 10% dos novos produtos ou processos introduzidos pelas empresas americanas têm contribuição imediata de pesquisas acadêmicas”, disse. Os países desenvolvidos formam entre 30 e 45 mil doutores por ano e a grande parte é empregada no setor privado. Nos Estados Unidos, cerca de 90% das inovações nascem nas empresas a partir de investimentos próprios em P&D. “A grande questão é que a maioria dos pós-graduandos brasileiros ainda dá preferência por carreiras nas universidades. A formação de tantos doutores e as altas taxas de empregabilidade no Brasil ainda não resultam em inovação porque esses profissionais ainda não estão nas empresas. Somente 8,4% dos grupos de pesquisa do CNPq relatam relacionamento com empresas”, afirmou. Além da falta de interesse dos recém-doutores, Siqueira apontou outras três causas da baixa quantidade de doutores nas empresas brasileiras: fraca visão estratégica para pesquisa e desenvolvimento (P&D) dos empresários, perfil de formação acadêmica dos doutores é muito restrito e custo elevado para contratação desses profissionais. (Fonte: Jornal da Ciência) NOTA DA ANPEI Uma das propostas da Anpei para aumentar a inserção de mestres e doutores no setor privado é a criação de um mecanismo de co-financiamento público-privado de bolsas para recursos humanos voltados para a inovação, sem teto de valor, compatíveis com os padrões do mercado nacional e internacional de trabalho.

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