Os resultados da Pesquisa de Inovação (PINTEC) referentes ao período 2015-2017 são extremamente preocupantes, não somente pelo que representam de perdas no desempenho da inovação no triênio pesquisado, mas principalmente pela tendência, que pode ser antecipada, a partir de sinalizações da economia e das políticas públicas para a inovação desde então.
A PINTEC, o retrato mais completo da inovação empresarial brasileira, demonstrou queda de 36,0% para 33,6% na taxa da inovação das empresas, comparando o triênio pesquisado com o período 2012-2014. A queda foi generalizada em todos os setores pesquisados, mas mais aguda na indústria.
Pela primeira vez na história da PINTEC houve retração nos investimentos das empresas em P&D como proporção do PIB, um dos indicadores mais relevantes da inovação nos países. Os investimentos caíram de 0,58% em 2014, para 0,50% em 2017. Em termos de valores, os investimentos em atividades inovativas caíram de R$ 81,5 bilhões em 2014 para R$ 67,4 bilhões em 2017. Já os investimentos em aquisição de máquinas e equipamentos, outra forma de medir inovação, caíram de R$ 33,5 bilhões para R$ 21,2 bilhões. Os gastos em P&D apresentaram queda, saindo de R$ 33,6 bilhões em 2017 para R$ 32,6 bilhões.
É sabida a grande importância do investimento público em P&D como indutor do investimento privado, compartilhando riscos inerentes à atividade de inovar. Isto se dá em qualquer parte do mundo, mas no Brasil há ainda maior dependência do investimento privado em P&D de induções públicas. Entretanto, o último triênio da PINTEC demonstra queda significativa do percentual das empresas que receberam suporte ou financiamento público para inovar, de 39,9% em 2012-2014 para 26,2% em 2015-2017. As razões estão na perda significativa do ímpeto das políticas públicas para a inovação, com grande enxugamento de orçamento. Os financiamentos do BNDES e da FINEP perderam atratividade e funding, o contingenciamento dos recursos de subvenção econômica frearam a disponibilidade de editais indutores, resultado do enxugamento de várias políticas públicas. Ainda, poucos recursos foram alocados à Embrapii, volume muito inferior à demanda e à capacidade de operação do mais novo e eficiente instrumento de fomento existente no país.
Outra tendência anterior de crescimento nos indicadores da inovação em todos os setores pesquisados que foi interrompida com o último resultado da PINTEC é o de intensidade tecnológica, medida pela relação entre investimento em P&D e receita líquida de vendas das empresas. Houve queda de 0,84%, em 2014, para 0,75%, em 2017. O resultado preocupa, ao demonstrar que as empresas brasileiras estão vendendo produtos com menor conteúdo tecnológico, e, certamente, de menor valor de mercado.
Sendo o primeiro resultado da PINTEC após o período de queda na atividade econômica pós 2014, era de se esperar uma acomodação nos investimentos privados em P&D. Entretanto, com a crise atual da Covid-19, sem precedentes, e com a perda significativa de investimentos públicos em P&D ao longo dos últimos anos, pode-se prever, mais uma vez, queda na atividade de P&D das empresas.
A ANPEI – Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras entende que será necessária a utilização de novos métodos para a captação mais célere de informações sobre o desempenho da inovação no Brasil, para que tanto o setor empresarial como o governo possam, sempre que necessário, realizar com maior agilidade mudanças de rota.
Não somente o passado retratado pela PINTEC nos preocupa, mas também o momento atual e o futuro da pesquisa e da inovação no país. Precisamos retomar o esforço coletivo em prol da inovação. A crise da Covid-19 demonstrou possível unir as competências existentes no país em prol da busca de soluções imediatas. Não poderemos alterar posições relativas do Brasil nos rankings de competitividade e inovação, objetivo de toda a Nação, sem termos a inovação no centro da estratégia de país, o que significa pensar e agir no curto, no médio e no longo prazos, orientados aos principais desafios do país e sua inserção na estratégia global.
Por fim, a ANPEI convida as empresas, governo e entidades do ecossistema de inovação a terem redobrada atenção aos indicadores de competitividade e de inovação e, e neste momento de crise tão profunda pela qual passamos, conclama a todos para um esforço coletivo e urgente para alterarmos o futuro anunciado para os próximos ciclos da pesquisa.