Inicialmente, é importante abordar um tema polêmico apontado por profissionais e gestores ligados às empresas: a crítica às ICTs recentemente chamadas ICTIs (Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação) voltadas somente para suas próprias organizações, que se concentram em pesquisa pura, que não estão preparadas e não fazem questão de trabalhar com o setor privado. Não podemos esquecer que: para que as empresas tenham interesse em realizar reais projetos conjuntos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) com universidades, é necessário que estas ICTIs tenham conhecimento avançado e sejam reconhecidas internacionalmente. Assim, poderão ser verdadeiros parceiros tecnológicos de empreendimentos com centros próprios de P&D. Sem esta grande e profunda densidade de pesquisa nas universidades, não há especialidades e especialistas nos diversos ramos da ciência para atender de forma diferenciada e com vanguarda às necessidades de empresas locais (nacionais ou internacionais). Ressaltamos que não se trata apenas de núcleos de faculdades renomadas (USP e UNICAMP), mas também de institutos conceituados habilitados a cooperarem com o setor privado, a exemplo do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), do INT (Instituto Nacional da Tecnologia do Rio de Janeiro) e do TECPAR (Instituto de Tecnologia do Paraná). Vale citar um dado que esclarece e desmitifica a impressão errônea que se tem no Brasil sobre o pouco relacionamento entre o setor acadêmico e o empresarial, tema estudado e evidenciado continuamente pelo atual diretor científico da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), Dr. Carlos Henrique de Brito Cruz. Cruz aponta que apenas 7,5% do orçamento das universidades nos EUA provém de projetos conjuntos entre estas e as empresas, com exceção do MIT Massachusetts Institute of Technology, que chega a algo em torno de 18% considerando sua natureza específica. Já no Brasil, o interessante é que há um outro posicionamento distorcido, proveniente do próprio setor acadêmico. Para eles, são as empresas que não sabem aproveitar tudo o que é gerado pela universidade, defendendo uma linha errada, a qual indica que são os resultados das pesquisas que devem ser aproveitadas e industrializadas pelo setor privado, independentemente do segmento, maturidade e aplicação. Obviamente, nenhuma das posições é totalmente correta e ambas devem ser consideradas com cautela. Outro ponto importante é entender o porquê das empresas no Brasil fazerem P&D e qual o tipo estas realizam. Algumas fazem desenvolvimento avançado e pesquisas menores, em função de fomentos e financiamentos públicos. Outras, já possuem seus próprios centros de P&D no país, devido à inserção em setores diretamente associados às peculiaridades dos recursos e mercados no Brasil e por terem total independência local. Estas empresas estão acostumadas a fazer parcerias com ICTIs de todos os tipos, sabendo prospectar e optar por parceiros que estão à altura de suas demandas técnico-científicas. Além disso, também fazem uso, até com mais intensidade e eficácia, de fomentos e financiamento públicos existentes no Brasil (ou até internacionais), a fim de viabilizar as relações com institutos de ilibada e reconhecida com competência nos temas que necessitam. Embora não tenhamos feito distinção de companhias multinacionais até o momento, é mais raro termos exemplos de núcleos de excelência em P&D de empresas internacionais no Brasil. Outra categoria de ICTIs que pode ser parceira de empresas, principalmente no caso de atendimento a contrapartidas de fomentos governamentais, setoriais ou fiscais, e no caso da empresa não ter equipe própria para uma interface com ICTIs públicas ou privadas (inclui-se aqui renomadas escolas como PUC e Mackenzie, entre outras), são instituições particulares, sem fins lucrativos, que possuem tanto expertise interno em várias tecnologias, como experiência em cooperações com empresas. No Brasil, temos cerca de dez ICTIs de ótimo nível, como o CERTI, o Eldorado ou o C.E.S.A.R. de Recife, no Porto Digital. Desta forma, a relação com ICTIs de qualquer tipo dependendo inicialmente de uma escolha própria da empresa em função de porte, segmento, transnacionalidade, estratégia, entre outros apresenta uma séria de oportunidades, entre elas, de se ter acesso a conhecimento cientifico-tecnológico inexistente na organização e/ou redução de custos de investimentos. Entretanto, a iniciativa vem acompanhada de uma série de desafios que tentamos esclarecer de forma didática neste artigo. Em tempos de crise no país, várias empresas já entenderam que praticar mais inovação é a única forma de garantir o aumento da competitividade e internacionalização tão necessárias para reverter a dependência do mercado interno e nos inserir no pelotão de frente dos países globais. Ronald Dauscha, presidente do Conselho Consultivo, do CLAEQ. (Revista Brasil-Alemanha de Inovação)

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