A produção da indústria brasileira está praticamente estagnada. Os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que se referem ao mês de novembro, mostram que a produção brasileira de 2013 ficou apenas 0,3% maior que a de 2008, ano de início da crise mundial. Essa estagnação, contudo, embute comportamentos setoriais muito distintos e mudanças profundas em algumas cadeias produtivas. E o câmbio é apenas parte da explicação. O câmbio intensificou um rearranjo produtivo em curso no mundo, com reflexos sobre a indústria brasileira. A produção doméstica perdeu “densidade”, ficou mais pobre, mais dependente dos estímulos oficiais, e mais cara. Salvaram-se setores atingidos, direta ou indiretamente, por políticas governamentais, embora elas não tenham funcionado igualmente para todos os beneficiados. Em 2008, o Brasil exportou US$ 3,1 bilhões em telefones celulares, e importou US$ 871 milhões dos mesmos bens, encerrando o ano com um expressivo saldo comercial de US$ 2,2 bilhões, 5% do superávit daquele ano. Depois daquele recorde, as exportações de celulares minguaram ano a ano até praticamente sumirem do mapa. Quase todo mercado, hoje, é atendido por importações. A balança comercial de celulares é um exemplo perfeito do duplo impacto do câmbio valorizado, pois ele elevou competitividade das importações e reduziu a das exportações. O setor de material eletrônico e equipamentos de comunicações foi o principal afetado por essa combinação nos últimos cinco anos, com retração de 30% na produção entre 2008 e 2013. Olhando estatísticas de comércio exterior, a exportação do segmento correlato (informática e eletrônicos) caiu de 11% da produção para 7,5% entre o terceiro trimestre de 2008 e igual período de 2013. Já o peso dos importados no consumo local do setor subiu de 43% para 52%, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). No conjunto da indústria, a produção nacional caiu em 11 dos 26 setores listados pelo IBGE ao longo dos últimos cinco anos. Dos 11, em nove indústria encolheu mais de 10%. O professor Júlio Sérgio Gomes de Almeida aponta como setores prejudicados todo o complexo eletroeletrônico, de informática e de comunicações, além do trio intensivo em mão de obra (têxtil, calçados e confecções), e o setor de metalurgia básica, afetado por uma grande oferta mundial. Na avaliação setorial, Gomes de Almeida identificou segmentos com baixo crescimento e outros com forte desempenho. Nesses, a presença do governo – especialmente via desonerações, mas também pela política de redistribuição de renda – fez diferença. Entre os beneficiados estão o mobiliário, alguns segmentos de transporte, perfumaria e equipamentos médicos. O pouco conhecido setor de instrumentos médicos e hospitalares foi, depois de “outros equipamentos de transporte”, o que registrou maior crescimento entre 2008 e 2013 – 23%. Intensivo em mão de obra, o trio têxtil, confecções e calçados – embora beneficiado pelas desonerações – foi afetado diretamente pela presença chinesa. Esses setores sofreram ainda com os aumentos de salários dos últimos anos, um dos custos que tornaram a produção nacional mais cara. Jorge Arbache, professor de economia da UnB, observa que esses cinco anos foram de muita instabilidade, tanto na economia brasileira como na mundial, e também pondera que o período é relativamente curto para grandes mudanças. Mesmo assim, também vê reflexos do câmbio e do aumento de custos (salários relativos, especialmente) afetando setores intensivos em mão de obra, e efeitos benéficos nos setores que receberam alguma política indutora do governo. Outro elemento listado por Arbache está na demanda mundial por commodities, que ajudou setores como celulose e minerais não metálicos, entre outros. Além dessas influências, Arbache tem levantado outra preocupação. Ele tem discutido a perda de “densidade” da produção nacional. O problema diz, não é só a queda da participação do setor no Produto Interno Bruto (PIB) que chegou a pouco mais de 13% em 2013, considerando apenas o segmento da transformação. Esse dado, defende, traduz apenas parte das mudanças em andamento. Arbache, que também é assessor econômico da presidência do BNDES, diz que em vários locais do mundo (Estados Unidos na liderança) a indústria cada vez mais tem atuado junto com o setor de serviços, o que agrega valor aos seus produtos. No Brasil, isso não tem acontecido. A indústria que mais cresce não é a que demanda serviços de alto valor agregado – tecnologia, inovação. Para Arbache, o Ipad é o exemplo clássico. Enquanto produto industrial, sem os softwares, seu valor é pequeno. Com eles, torna-se outro produto, e dá densidade à indústria que o fabrica. “Essa indústria não está presente, com raras exceções, no Brasil.” (Com informações do Valor Econômico)

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