Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo (veja abaixo), o professor de história e filosofia da educação e membro da Academia Brasileira de Letras, Arnaldo Niskier, relata sua viagem à Suécia e diz ser extremamente difícil comparar o que se passa no país escandinavo com o que ocorre no Brasil, principalmente na área da educação. Ele destaca, contudo, a necessidade de o País investir em inovação, como fazem os suecos, com muito êxito. A publicação do artigo de Niskier coincidiu com a visita ao Brasil do casal real da Suécia, o rei Carl XVI Gustaf e a rainha Silvia. Na ocasião última semana de março a Anpei recebeu a visita de uma comitiva do governo sueco, composta por gestores e técnicos na área de inovação e cooperação internacional. Eles foram recebidos pelo vice-presidente da Anpei, Carlos Calmanovici, e pelo ex-diretor executivo, Olívio Ávila. Segundo Ávila, a razão da vinda dos suecos ao País foi conhecer nosso sistema de inovação, pois pretendem abrir um escritório aqui para cuidar das atividades de relacionamento entre empresas dos dois países no campo de inovação e transferência de tecnologia. A Suécia tem vários escritórios desse tipo no mundo, mas nenhum no hemisfério sul. Quanto a visita à Anpei, o motivo foi nos conhecer, disse Ávila. Segundo eles, somos uma entidade sui generis no mundo no campo da inovação e desenvolvimento tecnológico, e também acharam interessante a existência da Anpei há mais de 26 anos, quando ainda não se falava em inovação. Leia o artigo de Arnaldo Niskier na íntegra: Enquanto na calçada a neve descia em flocos apressados, a cidade de Estocolmo, linda apesar do frio de 6 graus negativos, abrigava um importante seminário sobre o Brasil e o futuro, a cargo de especialistas dos dois países. Falou-se sobre novas formas de energia (etanol, biodiesel, gás natural e até sistemas híbridos) e defesa do meio ambiente. O embaixador Antonino Mena Gonçalves traçou um panorama bastante otimista em relação à ampliação das relações comerciais mantidas por nosso País com a nação escandinava, que hoje tem aproximadamente 200 empresas em território brasileiro, contabilizando, somente elas, mais de 50 mil funcionários. Isso ainda pode crescer muito mais, assinalando-se algo visível a olho nu: o povo sueco tem grande estima pelos brasileiros, fato que remonta ao parentesco do nosso imperador com a família real escandinava. Com o reforço, é claro, da Copa do Mundo de 1958, a que lançou Pelé. Até hoje eles se lembram como aplaudiram os nossos craques durante a final, que vencemos por 5 a 2. A Suécia tem 9 milhões de habitantes e cerca de 2 milhões de estudantes nas suas escolas. O ensino é integral para todos os alunos e rigorosamente gratuito, das 9h às 16h30. Os professores são bem remunerados e constituem uma categoria socialmente muito respeitada. Os pais se interessam pela educação dos filhos, especialmente nas primeiras séries do ensino fundamental, quando é comum participarem das atividades escolares para estimular os filhos à conquista do conhecimento. Uma das palavras que ouvimos na Câmara de Comércio foi a do professor Thomas Arctaedius, da Universidade de Estocolmo. De forma bem objetiva, ele traçou para os 180 participantes do seminário as prioridades da sua instituição. Vale a pena prestar muita atenção: 1) a formação de cientistas; 2) a formação de pensadores; 3) a formação de professores. Isso numa universidade que tem 50 mil alunos. É extremamente difícil comparar o que se passa na Suécia com o que ocorre no Brasil, sobretudo na área da educação. São duas realidades totalmente distintas. Querem um exemplo? Fizemos uma visita à Royal Swedish Academy of Sciences. Ela é uma das quatro responsáveis pela atribuição anual do Prêmio Nobel. Na exposição feita por um dos seus membros, o que mais chamou a atenção foi o cuidado revelado com as crianças. “Elas devem, desde cedo, acostumar-se com a iniciação científica. Damos a isso absoluta prioridade.” É claro que o resultado só pode ser a existência de um país solidamente constituído do ponto de vista científico e tecnológico. Produz talvez o melhor papel do mundo (lembro que era muito utilizado pela revista “Manchete”) e tem empresas internacionais do porte da Volvo, da Ericsson, da Scania e da SKF, exportando tecnologias e mão-de-obra ultraespecializada. Sem contar os aviões de combate (caças Gripen), hoje alvo de movimentada concorrência internacional. Não é de estranhar, pois, que, cuidando assim dos seus recursos humanos, a Suécia esteja no topo das dez maiores economias mundiais impulsionadas pela inovação, superando países como Estados Unidos, Noruega e Dinamarca. Em pesquisa da London Business School, a Suécia apresentou a melhor combinação de atributos, com os seus serviços de educação e capacitação. Com outra particularidade: há poucas probabilidades de que o país perca essa liderança, com o atual estágio em que se encontram as suas tecnologias de comunicação (redes, celulares e computadores). Na lista dos países em desenvolvimento, impelidos pelos recursos naturais, o Brasil figura em sexto lugar na classificação feita pelo Fórum Econômico Mundial, atrás da Malásia, da África do Sul, do Chile, da Argentina e da Rússia. A conclusão óbvia é a de que devemos persistir nas estratégias de inovação, para o que se torna indispensável um choque de eficiência no processo educacional brasileiro, hoje muito aquém das necessidades de crescimento do país. Quando se vê o que se faz lá fora, aumenta a vontade de uma grande mudança. Arnado Niskier, 74, é doutor em educação, professor de história e filosofia da educação e membro da Academia Brasileira de Letras.

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