TI é o principal foco de inovação, diz estudo
Um futuro não muito distante promete vídeos em terceira dimensão para os loucos por tecnologia, autenticação biométrica para os “desligados” que nunca conseguem memorizar senhas e – por que não? – próteses inteligentes para quem precisa de um joelho zero-quilômetro.
Invenções do gênero estão deixando a cabeça e os laboratórios dos pesquisadores para, quem sabe, tornar-se parte do dia-a-dia. Os exemplos acima são criações de algumas das 36 empresas consideradas as mais inovadoras do mundo, neste ano, pelo Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês).
Elas fazem parte do “Technology Pioneers 2006”, levantamento feito pelo WEF junto com as consultorias Deloitte e Apax para apontar as empresas que estão desenvolvendo tecnologias com maior potencial para transformar a vida das pessoas.
A pesquisa, feita anualmente desde 2000, elege empresas que desenvolveram novidades – não vale repaginar algo já existente – e que tenham chances de provocar impacto duradouro na sociedade. Outro critério é que tenham algum produto no mercado. Não basta ter boas idéias. São analisadas inovações em três áreas: biotecnologia, energia e tecnologia da informação (TI).
É esta última, no entanto, que concentra o ambiente mais fervilhante para inovações. Das 36 empresas que constam do levantamento, nada menos que 19 desenvolveram projetos em TI – com destaque para tecnologias que incorporam novos recursos, como vídeos e transações eletrônicas, à telefonia móvel.
Há duas razões para essa preponderância, afirma Soren Bested gerente do WEF responsável pelo estudo neste ano. “Uma delas é que as pesquisas em TI são mais baratas e se transformam mais rapidamente em produtos do que um medicamento”, diz ele, numa entrevista por telefone. “No entanto, há uma outra razão, que é o desenvolvimento de uma sociedade da informação.”
Mas será que essas tecnologias terão mesmo o poder de revolucionar alguma coisa ou estão fadadas a morrer antes mesmo de ser adotadas pelas pessoas?
É difícil prever, mas Bested dá uma pista. Segundo ele, das 260 companhias pioneiras que fizeram parte do levantamento nos quatro primeiros anos em que foi editado, apenas 5% não estão mais em operação. “As outras todas estão aí. Algumas foram compradas ou mudaram de nomes, mas estão funcionando”, diz.
Expoente mais famoso dessa lista é o Google , site de buscas que reinventou o jeito de fazer pesquisas na avalanche de informações que estão na internet. A empresa figurou na primeira edição do estudo, em 2001.
Os EUA dominam, com folga o território da inovação tecnológica. Tem sido assim todos os anos e, em 2005, não foi diferente. Foram escolhidas 17 empresas americanas. O Reino Unido veio em seguida, com oito representantes. Fora do circuito América do Norte-Europa, o único país a integrar a lista deste ano foi Israel, com duas empresas, ambas de tecnologia da informação.
Nesses cinco anos, o Brasil nunca teve representantes no levantamento do WEF. Para Bested, a existência de uma grande comunidade científica, volume considerável de capital de risco e apoio do governo explicam a relevância dos EUA no pioneirismo. “É tarefa pública dar assistência a projetos de incubadoras. Uma empresa nova tem de avaliar os benefícios e os riscos de investir. O governo tem de diminuir os riscos”, avalia.
Falta de recursos e uma cultura que não privilegia o empreendedorismo são os dois maiores entraves ao desenvolvimento de tecnologia no Brasil, diz Eduardo Costa, superintendente de investimentos em inovação da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, a Finep é a única agência do governo a financiar projetos de inovação.
O orçamento do órgão neste ano foi de R$ 760 milhões, valor que deve aumentar para R$ 1,2 bilhão em 2006. “Desenvolver um medicamento custa entre US$ 500 milhões e US$ 800 milhões”, compara Bested.
Na avaliação de Costa, as perspectivas para o Brasil estão melhorando. Exemplo disso seria a criação de seis novos fundos de capital de risco, prevista para o início do próximo ano, que investirão R$ 300 milhões em empresas nascentes. Mas ele reconhece que os recursos são diminutos. “Ainda assim é pouco”, afirma.
Um dos pilares do financiamento à inovação, a indústria de capital de risco também é pouco desenvolvida no país. Segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas, essa categoria de investimentos movimentou US$ 5,6 bilhões no Brasil nos últimos dez anos. O montante é bem próximo dos US$ 5,3 bilhões aplicados nos EUA apenas no terceiro trimestre deste ano, conforme dados da americana Associação Nacional de Capital de Risco (NVCA, na sigla em inglês). “O Brasil está na posição em que os EUA estavam nos anos 60” diz Joubert Castro Filho, diretor da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital.
Fonte: Valor Econômico