Um grupo de pesquisadores da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp desenvolveu um equipamento e uma proposta metodológica inédita para a detecção de fraudes de energia elétrica. A proposta consiste numa atividade de pré-inspeção na rede elétrica com o auxílio de um micromedidor de amper-hora (Ah). Os resultados dos trabalhos demonstraram que, em grande escala, o índice de acerto do método seria de, no mínimo, 90%, contra apenas 12% do processo convencional praticado pela distribuidora de energia. Trata-se de uma proposta de baixo custo e de alta produtividade, garantem os pesquisadores envolvidos. O professor José Antônio Siqueira Dias, coordenador dos estudos, informa que os trabalhos foram realizados e financiados por meio de um projeto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) com a companhia paulista AES Eletropaulo, a maior distribuidora de energia elétrica do Brasil. Atualmente, a empresa, que é responsável por atender 24 municípios da Região Metropolitana de São Paulo, incluindo a capital paulista, gasta em torno de R$ 65 milhões anuais para combater adulterações, conseguindo identificar apenas 12% dos fraudadores. A Eletropaulo mantém um programa muito intenso de combate a fraudes. Esse programa recupera valores significativos da ordem de R$ 80 milhões por ano, mas a eficiência dele, considerando os métodos tradicionais praticados, ainda é limitada, sob vários aspectos. Nossas pesquisas inserem-se, portanto, na tentativa de tornar isso mais eficiente. Elas integram um convênio da Aneel financiado pela Eletropaulo. Existe um programa de pesquisa e desenvolvimento da Aneel e, dentro desse programa, nós fizemos esta parceria entre a Unicamp e a Eletropaulo, contextualiza o docente. Em seu mestrado defendido recentemente, o engenheiro eletricista Luiz José Hernandes Jr. criou uma atividade de pré-inspeção para a detecção de fraudes sem a necessidade da entrada de técnicos da distribuidora de energia nas residências dos consumidores, como é feito, atualmente, pelo método tradicional. A detecção, pelo processo proposto, é realizada no ramal de entrada do cliente, portanto, antes do medidor de energia. Ela só foi possível graças ao desenvolvimento de um micromedidor de amper-hora (Ah), trabalho que integra doutorados do engenheiro de telecomunicações Luis Fernando Caparroz Duarte, orientado pelo professor Elnatan Chagas Ferreira (FEEC), e do engenheiro de computação Flávio José de Oliveira Morais, orientado pelo professor José Siqueira Dias. O docente José Siqueira Dias, que orientou o mestrado de Luiz Hernandes e atua no Departamento de Eletrônica e Microeletrônica da FEEC, explica que o aparelho toma uma medida num período amostral de consumo no ramal de entrada do cliente e compara com a leitura do medidor, instalado dentro da casa do cliente. A partir de diferenças entre estas medidas, determina se existe ou não uma fraude na ligação. O nosso processo atingiu pleno sucesso. Queríamos produzir um novo método eficaz de inspeção sem entrar na casa do cliente. Você imagina: em 88% dos casos não existem fraudes. Portanto, 88% dos clientes que sofrem esta inspeção estão completamente regulares. Por mais cuidado que o técnico eletricista tome ao se apresentar, não deixa de ser um constrangimento receber uma equipe para investigar se o cliente está fraudando o consumo de energia elétrica, diz Hernandes. O método formulado na Unicamp prevê a instalação um micromedidor. Este aparelho, muito pequeno, é suspenso sobre a rede de energia do lado de fora da residência e fica praticamente imperceptível para o cliente, de acordo com Luiz Hernandes. Durante um período amostral, o micromedidor externo registra uma corrente e o leiturista da concessionária toma para esse mesmo período a leitura do medidor do cliente. Depois são realizadas as comparações. É aí que vieram os maiores desafios da pesquisa, porque o micromedidor só mede a corrente e não a tensão real, dado que interessa efetivamente para chegar ao cálculo do consumo. O micromedidor faz a medição de apenas um parâmetro. Já o medidor convencional instalado no padrão de entrada das residências mede a tensão, a corrente e consegue saber como estes dois parâmetros estão no tempo. Isso permite calcular a energia ativa. Por isso, tivemos que inferir, com uma margem muito pequena de erro, todas as outras informações por meio de um estudo estatístico, esclarece. A formulação de um equipamento que identificasse apenas um parâmetro, como o micromedidor, foi uma limitação deliberada para que o aparelho pudesse ser rápido; micro; não utilizasse cabos; e fosse retirado e colocado quase que instantaneamente, de modo que o cliente não percebesse. Além disso, o micromedidor transmite as informações por rádio e sua manutenção é muito simples. Outro aspecto da metodologia foi identificar qual degrau de consumo que representava, de fato, uma fraude. Começamos isso de diversas formas. Identificamos primeiro os casos onde a Eletropaulo encontrou fraude. A Eletropaulo não leva em consideração somente o degrau de consumo, mas o histórico do cliente, casos de fraudes anteriores, o tipo de atividades e níveis de consumo. Havia um grande acerto da Eletropaulo quando o degrau de consumo era maior do que 43%. Fomos à Eletropaulo e com o auxílio dos técnicos reproduzimos em laboratório várias situações de fraude e erros de instalação. E aí começamos a entender o que ocorre no campo. E nós identificamos que a menor fraude gera um degrau de consumo de 20%, relata. Além de preciso do ponto de vista metodológico, o processo se mostrou extremamente produtivo, compara o engenheiro eletricista e pesquisador da Unicamp. Enquanto a inspeção demorava pelo menos uma hora, este processo de instalação do micromedidor passou a ser feito em 30 segundos. Ele informa ainda que foram feitos testes em escalas reduzidas. A Eletropaulo selecionou os casos, aplicou o método com o micromedidor e fez a inspeção para constatar a eventual fraude. Futuramente, há planos, em uma possível segunda fase do projeto, para testes em larga escala, prevê. (Jornal da Unicamp)

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