Programa de duplo diploma para engenheiros é pouco conhecido pelas empresas
França e Brasil vão criar “observatório de parcerias” para estimular
programas de formação de engenheiros entre os dois países.
O programa de dupla formação de engenheiros, pelo qual o aluno obtém simultaneamente diploma de duas escolas de engenharia, uma brasileira e outra francesa, é um sucesso. Por conhecer o idioma e a cultura dos dois países, o engenheiro com duplo diploma é normalmente preferido pelos empregadores e tem mais chances de fazer carreira internacional; no entanto, o programa que promove esse tipo de formação ainda é desconhecido pela maioria das empresas. Por isso, é preciso que universidades e empresas, do Brasil e da França, reúnam esforços para a difusão do duplo diploma. Essa foi uma das principais conclusões do Fórum Franco Brasileiro “Empresas e Formação de Engenheiros”, realizado nos dias 19 e 20 de abril na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Promovido pela Conferência de Diretores das Escolas Francesas de Engenheiros, pelo Consulado da França em São Paulo e pela Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC), com organização da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei), o encontro reuniu cerca de 150 pessoas, entre representantes governamentais, acadêmicos, gestores de ciência & tecnologia e empresários dos dois países. Entre outros temas, foram debatidas as experiências e expectativas das empresas em relação ao duplo diploma, mostrando o ponto de vista das universidades e companhias brasileiras e francesas.
O Fórum serviu também para debater algumas diferenças nas relações entre universidades e empresas nos dois países. Segundo Michel Brunet, adido de Cooperação Científica e Tecnológica do Consulado Geral da França em São Paulo, em seu país as empresas participam mais ativamente da vida das universidades. “Elas integram os conselhos de administração das universidades e da avaliação dos alunos nos estágios, por exemplo”, explicou. “Além disso, entre 40 e 50% do corpo docente é formado por profissionais do mercado. No Brasil isso não ocorre. As empresas não participam da vida das universidades e o corpo docente é mais acadêmico.”
A formação que os alunos recebem em seus respectivos países também é diferente. No Brasil, 90% dela é técnica, enquanto na França cerca de 35% da formação é humanista. As diferenças da legislação entre os dois países para a realização de estágio dos alunos de engenharia foi outra questão evidenciada no evento. Enquanto na França praticamente não há exigências legais para que o aluno brasileiro seja aceito pelas empresas como estagiário, no Brasil o estudante francês tem dificuldades de fazer estágio em razão da legislação trabalhista. “Como chega com visto de estudante, ele não pode ser contratado para trabalhar como estagiário” disse Brunet.
Apesar das diferenças e dos problemas ainda existentes, devido à globalização da economia a tendência é que programas de dupla formação e de intercâmbios de uma maneira geral cresçam e atraiam cada vez mais estudantes. Em 2006, apenas os cursos de engenharia franceses atraíram 509 alunos brasileiros. Em contrapartida, vieram cerca de 250 franceses estudar engenharia no Brasil.
Diante desse quadro, o Fórum chegou à conclusão que o aumento desse fluxo exige a criação de um “observatório de parcerias”, para medir e avaliar a qualidade dos programas de intercâmbio. A proposta, feita durante o evento, prevê que o observatório seja composto por representantes dos governos e por voluntários das universidades e empresas da França e do Brasil. Sua tarefa será propor critérios e requisitos para o maior êxito dos programas de intercâmbio.