Américas buscam estímulos à inovação
Por que as Américas têm sido tão pouco competitivas diante de países asiáticos, como Coréia, Japão, China, Taiwan e até a Índia? Por que o crescimento médio do PIB nesta região é muito inferior ao dos países asiáticos, bem como de alguns países europeus, como a Irlanda?
Para responder a essas perguntas e, em especial, buscar saídas para o desenvolvimento regional, mais de 500 especialistas, pesquisadores, acadêmicos, investidores, líderes corporativos, ministros e governantes se reuniram durante dois dias na semana passada, em Atlanta (EUA), na primeira edição do Fórum de Competitividade das Américas.
O evento, criado por iniciativa do ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, é realizado exclusivamente com o patrocínio de empresas privadas e não-governamentais, embora tenha contado com o apoio institucional e a presença de governos, tanto dos Estados Unidos quanto de países latino-americanos.
Surpreendentemente, o Fórum se desenvolveu em ambiente cordial e focalizado essencialmente em sua agenda econômica, sem nenhum debate político ou ideológico mais acalorado, nem no tocante às políticas protecionistas ou liberalizantes.
Conforme disse o secretário do Comércio dos EUA, Carlos Gutierrez, “o Fórum se limitou à discussão de novas estratégias de elevação da produtividade e da competitividade, da ampliação dos negócios, da criação de empregos e da elevação da qualidade de vida”. Na opinião da maioria dos debatedores, as causas da baixa competitividade regional repousam na educação de baixa qualidade, na falta de inovação, na pobreza tecnológica, nos problemas administrativos públicos e privados, na excessiva burocracia, na desordem tributária, nos imensos déficits públicos, entre outros.
Um diferencial no projeto do Fórum é sua atividade permanente. Em cada país, deverão continuar a partir de agora os debates internos e as análises de novas estratégias que visam a melhoria da eficiência governamental, o estímulo às inovações e à modernização tecnológica.
No Brasil, o Fórum continua com a reunião dos dias 11 e 12 de julho, em Brasília, no evento denominado 1st US-Brazil Innovation Summit, promovido pela Conselho de Competitividade dos Estados Unidos, o Movimento Brasil Competitivo (MBC) e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Interessados podem obter mais informações e contato com os organizadores via e-mail (usbrazilsummit@compete.org).
Atraso – Apenas 0,2% das empresas latino-americanas estão preparadas ou participando de algum tipo de atividade exportadora, segundo dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Esse é um dos aspectos críticos ressaltados pelo peruano Hernando De Soto, presidente do Instituto para a Liberdade e a Democracia, considerado pela revista The Economist um dos dois mais importantes ‘think tanks’ do mundo.
“Faltam mecanismos básicos que permitam à esmagadora maioria das empresas da região buscar a inovação, a modernização tecnológica e a competitividade”, ressalta De Soto. Para ele, “essa realidade, associada à falta de estrutura legal que assegure o acesso ao crédito e aos estímulos às exportações, mostra o tamanho do desafio da adequação das instituições na América Latina, para um salto na questão da competitividade. E não se trata de questão cultural, mas de atraso, mesmo.”
O Brasil teve participação expressiva no Fórum de Competitividade das Américas, com a presença de corporações como Grupo Gerdau, Embraer, Petrobras, Banco do Brasil, Natura, Stephanini e Altus, além do Pólo Digital do Recife, entidades governamentais e três deputados: Luiz Paulo Veloso Lucas, Julio Redecker e Tarcísio Perondi.
O principal palestrante e debatedor da delegação brasileira foi Jorge Gerdau Johannpeter, do Grupo Gerdau, responsável pela exportação de 50% da produção siderúrgica nacional. Em sua visão, o Brasil ainda vive preso ao seu passado de economia fechada e protecionista.
Por isso, a participação em programas de competitividade internos e externos, como os que já se iniciaram no país e no hemisfério, é muito importante para que o Brasil possa comparar as experiências bem-sucedidas que outros países estão fazendo em matéria de competitividade, em especial em questões tão sérias como é o custo da burocracia e de outras ineficiências para a economia nacional.
Na opinião de Gerdau, Cingapura, embora seja país muito pequeno, é um caso exemplar de gestão de eficiência, como uma trading mundial, mas reduz ao mínimo os custos e aumenta permanentemente sua produtividade e competitividade, a começar da área governamental.
O Brasil tem evoluído lentamente rumo a uma nova competitividade regional e global. Porém, os custos brasileiros ainda são extremamente elevados, em qualquer campo que analisamos. Aliás, o debate da busca de competitividade está ainda em sua fase incipiente, na área governamental. Na área privada, felizmente, já contamos com muitas empresas preparadas.
Fonte: O Estado de S.Paulo