Empresas do Nordeste devem apostar na inovação
Para o presidente da Fieb, desenvolvimento industrial da região requer cada vez mais a ampliação da capacidade inovadora de suas empresas.
Beneficiada pela chegada de unidades produtivas de indústrias de grande porte, a região Nordeste vem aumentando sua participação relativa no PIB industrial do país. Segundo dados do IBGE, em 1970, o Nordeste representava 5,7 % do VTI (Valor da Transformação Industrial), conceito que mede a atividade industrial, e 12,1 % do PIB nacional. Em 2003, estes dois indicadores alcançaram 11,7% e 13,8%, respectivamente. Para manter e ampliar esse quadro, a inovação tecnológica é uma ferramenta que as indústrias da região não podem deixar de utilizar. Segundo seu presidente, Jorge Lins Freire, a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) tem adotado uma série de iniciativas no sentido de proporcionar à indústria local o apoio à inovação. Para ele, nesse sentido, eventos nessa área, como a VII Conferência Anpei, são importantes para o estabelecimento da agenda empresarial no atual ambiente competitivo.
Na entrevista abaixo, Freire aborda essa e outras questões.
Qual a importância da inovação tecnológica para as empresas da Bahia, em particular, e da região Nordeste, em geral?
Nas últimas décadas, a indústria nacional vem vivenciando um processo de relocalização das suas unidades produtivas, com a ampliação da participação relativa do PIB industrial nordestino em relação à região Sudeste. Segundo, dados do IBGE, em 1970, a região Nordeste representava 5,7 % do VTI (Valor da Transformação Industrial), conceito que mede a atividade industrial, e 12,1 % do PIB nacional. Em 2003, estes dois indicadores alcançam 11,7% e 13,8%, respectivamente. Essas estatísticas refletem a ampliação da importância da indústria na dinâmica da região nordestina. O estado da Bahia, no mesmo período, amplia sua participação no VTI nacional de 1,5 % para 5,5%. Atualmente, responde por 47,6 % do VTI da região Nordeste (dado de 2004).
A ampliação da importância relativa da indústria da região Nordeste no cenário nacional foi determinada por políticas fiscais estaduais de atração de indústrias e pelos diferenciais de custos, principalmente de mão-de-obra. Na ótica empresarial, tais diferenciais significaram vantagens competitivas vis-à-vis a abertura da economia nacional com a conseqüente ampliação da concorrência de empresas de escala mundial.
Mas o modelo de atração de indústrias baseado em regimes fiscais diferenciados não tem demonstrado sinais de exaustão?
Tem, sim, em função da fragilidade financeira do setor público. Da mesma maneira, na medida em que se amplia a demanda por trabalhadores industriais na região Nordeste, ocorre uma natural redução do diferencial de salário em relação ao Sudeste. É neste contexto que se deve compreender o papel da inovação para este novo momento de industrialização da região Nordeste.
Neste sentido, o desenvolvimento industrial da nossa região requer cada vez mais a ampliação da capacidade inovadora das empresas locais e da construção de um sistema estadual de inovação articulado com a política industrial, tecnológica e de comércio exterior do governo federal. Entendemos que o estabelecimento de políticas de incentivo à inovação de recorte regional é fundamental para a continuidade da industrialização no Nordeste, com a criação de mecanismos de financiamento e de subvenções diferenciados para nossa região.
Como a Fieb tem atuado no estímulo à inovação tecnológica?
O Sistema Fieb tem adotado uma série de iniciativas no sentido de proporcionar a indústria local o apoio à inovação. A principal iniciativa, sem dúvida alguma, encontra-se no nosso esforço de prover as unidades do Senai de uma infra-estrutura moderna capaz de atender às necessidades do nosso parque industrial. As unidades do Senai Dendezeiros, Cetind e, em especial, o Cimatec estão capacitadas com equipamentos de ponta e uma equipe de alta qualificação à disposição das indústrias locais. O Cimatec representa uma contribuição de extrema relevância do Sistema Fieb para a matriz industrial nacional, em especial do nosso estado, com uma estrutura na fronteira dos institutos tecnológicos nacionais e comparáveis aos seus congêneres localizados em países desenvolvidos.
A unidade baiana do Instituto Euvaldo Lodi (IEL) também tem participação nas políticas de apoio à inovação no Estado?
Foi de iniciativa do IEL/BA a criação da Rede de Tecnologia (Retec), que foi incorporada aos programas nacionais da CNI, sendo replicada em mais seis estados. Ela atua por meio de informações para melhorias de processos e produtos, na área de propriedade industrial, assim como, disponibilizando diagnósticos e consultorias para micro, pequenas e médias empresas industriais.
Merece destaque, também, o Conselho Temático de Tecnologia e Competitividade, criado como órgão consultivo da Presidência da Fieb, constituindo-se em espaço para discussão e encaminhamento de propostas, visando o aprimoramento das políticas e instituições de apoio à inovação.
A participação ativa da Fieb no apoio ao desenvolvimento tecnológico do nosso estado, nos credencia a participar de conselhos externos tais como o Conselho Curador da Fapesb e o Conselho Estadual de Ciência e Tecnológica. Projetos do governo estadual de apoio ao desenvolvimento tecnológico, a exemplo do projeto do Parque Tecnológico, também recebem apoio econômico e institucional.
Quais os setores industriais com maior potencial inovador na Bahia?
Em função da nossa estrutura industrial concentrada, a dinâmica do desenvolvimento tecnológico da indústria baiana encontra-se nos segmentos petroquímico e petróleo e gás. As empresas que fazem parte desses dois segmentos, em virtude da dinâmica do setor, apresentam elevado potencial de inovação.
A implantação na Bahia do complexo automotivo da Ford, que vem transferindo das demais unidades da América Latina para a unidade local a maioria do seu esforço de engenharia de produto, trouxe mudanças na matriz industrial do Estado. O lançamento de novos produtos, assim como, a busca pela crescente redução de custo e aumento de produtividade da Ford, tem requerido dos fornecedores da cadeia uma busca intensa por inovação de produtos e processos.
Temos observado também a ampliação do número de empresas baianas de pequeno e médio porte com potencial inovador. Elas precisam inovar para se manterem competitivas. E, neste caso, o Senai-BA tem desenvolvido projetos inovadores para empresas que atuam no segmento de rochas, fármaco, médico hospitalar, entre outros.
Quais suas expectativas com a VII Conferência Anpei em relação à inovação na Bahia e no Nordeste?
Os eventos na área de inovação são importantes para o estabelecimento da agenda empresarial no atual ambiente competitivo. O reconhecimento da inovação enquanto elemento central para a competitividade da indústria, principalmente aquela de pequeno porte, é algo muito recente. Além do mais, existe a interpretação distorcida de que a inovação é fruto de um processo complexo restrito às empresas de maior porte. Nesse sentido, eventos sobre inovação centrados em casos de sucesso são importantes, pois facilitam a compreensão e a sensibilização de novas empresas.