Entrevista com Evando Mirra, da ABDI, sobre inovação
O diretor de inovação da ABDI fala sobre a importância de uma cultura de inovação para a competitividade industrial.
A criação de uma cultura inovadora é o que falta ao Brasil, principalmente, para que o País alcance um novo patamar de competitividade industrial, mais próximo dos países desenvolvidos. Essa é a opinião de Evando Mirra, diretor de inovação da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). “Não se trata apenas de ter mais recursos para desenvolvermos projetos inovadores no Brasil. É preciso que seja criada uma discussão institucional, um ambiente de cultura inovadora”, disse. Leia abaixo a entrevista concedida ao Informe ABDI.
Como o senhor vê a entrada do BNDES no financiamento da inovação?
É uma notícia extremamente positiva. A presença do BNDES no financiamento à inovação eleva significativamente o patamar de recursos mobilizadores para as atividades inovadoras. O BNDES teve sempre um papel indutor de programas para outros agentes financeiros, o que significa que seu exemplo deverá ser seguido por outras instituições de financiamento. Além disso, o poder de impacto do BNDES poderá mobilizar tanto novas linhas inovadoras, para aqueles que já estão neste caminho, quanto para aqueles que ainda estão iniciando no setor empresarial. Assim, vamos formar um grande mutirão nacional pela inovação. Mas é preciso ressaltar que não se trata apenas de ter mais recursos para desenvolvermos projetos inovadores no Brasil. É preciso que seja criada uma discussão institucional, um ambiente de cultura inovadora.
O que falta ao Brasil para atingir esse patamar?
Hoje, a grande agenda dos países desenvolvidos é a inovação. No Brasil, porém, o processo de inovação ainda está numa fase histórica de implantação e consolidação. Se no mundo inteiro essa discussão é recente, no Brasil é recentíssima. O que nos distingue dos países avançados é o fato de que no Brasil as ações inovadoras ainda resultam de processos deliberados, de investimentos feitos de forma isolada. Nos países desenvolvidos, há uma democratização do sistema inovador, que permeia não só o setor produtivo, mas a própria cultura local. O que nos falta é a criação do gesto coletivo.
Nós temos muitos trunfos – como um sistema de qualificação de recursos humanos invejável, uma rede de instituições formadoras de competência e ainda, somos um dos países que mais geram riquezas -, mas ainda temos muitos gargalos. A dependência do conhecimento externo, uma vez que a industrialização brasileira foi realizada intensivamente a partir da compra de tecnologia externa, a falta de uma cultura inovadora e a ausência de cooperação entre os diferentes agentes de inovação são alguns dos obstáculos que teremos de enfrentar. Além disso, não há desenvolvimento e inovação sem a intervenção do Estado.
Qual deve ser a participação do Estado brasileiro nesse processo?
O Brasil deve sinalizar e valorizar essa nova agenda para a sociedade, prover infra-estrutura comum de apoio às transformações e propor e organizar o ambiente, com a definição de um marco regulatório. É nesse contexto que entra a ABDI. Parte do trabalho da Agência é promover a inovação, juntando os diferentes grupos de agentes da inovação, colocando mais gente no jogo. O Brasil já mostrou que é capaz de inovar em casos como a Embrapa, a Embraer e a Petrobrás, só para citar alguns exemplos. Mas esse processo só vai dar certo mesmo se transformarmos a inovação em um fenômeno de sociedade.