União Européia perde doutores para EUA e Ásia
Procuram-se doutores. As Universidades européias não escondem o problema: admitem que têm disputado com unhas e dentes cientistas do mundo inteiro. Na briga por talentos, acabam perdendo para os EUA e alguns países asiáticos, como o Japão, alerta o vice-presidente responsável pela área de pesquisas da Universidade de Lovaina, na Bélgica, Paul de Boeck. E não se trata apenas dos estudantes europeus. Os estrangeiros também têm dado preferência a Universidades americanas e asiáticas.
“A academia precisa de uma parceria com a indústria. Os doutorandos querem ir para onde o dinheiro está. É o caso de EUA, Japão, Cingapura e Hong Kong. Eles querem participar de grandes projetos e receber bons salários. Temos tentado recrutar nossos estudantes principalmente na América do Sul e na África”, afirma De Boeck.
De olho no problema, a União Européia (UE) está estudando uma série de medidas para atrair esses profissionais e melhorar o desempenho das universidades. Deve anunciar um plano detalhado no início de 2006. No final deste ano, divulga uma proposta com novas regras para a migração legal. Concessão de nacionalidade pode ser um estímulo.
Durante encontro informal dos líderes dos 25 países da UE, na Inglaterra, em dezembro, o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, teria dito que uma das idéias sobre a mesa seria oferecer a nacionalidade européia a estudantes estrangeiros que concluíssem o doutorado na UE, segundo o jornal “Financial Times”. A idéia teria tido o apoio do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, que também acumula a presidência rotativa da UE neste momento.
Oficialmente, a assessoria da comissão garante que a idéia é apenas facilitar a permanência na Europa desses profissionais altamente qualificados por um tempo adicional depois de eles completarem seus estudos. Segundo analistas, esta medida, em última instância, poderia acabar facilitando também a permanência definitiva desses trabalhadores.
Garantir a estada dos estrangeiros na Europa poderia ser uma forma de melhorar o financiamento das Universidades – uma das preocupações das autoridades européias – uma vez que muitos deles pagam pelos seus estudos. O investimento nas Universidades, a migração de trabalhadores qualificados e pesquisas estão no topo da lista de prioridades da EU para garantir a competitividade do bloco, criar novos empregos e estimular o crescimento econômico.
Mas manter os profissionais de países em desenvolvimento na Europa passa por uma questão polêmica, da qual os europeus vinham tentando se manter afastados. Estimular sua permanência é incentivar a emigração de trabalhadores altamente qualificados, a chamada fuga de cérebros, de países mais pobres, algo que os EUA, o Canadá e a Austrália são acusados de vir fazendo há algum tempo.
De acordo com dados divulgados recentemente pelo Banco Mundial (Bird), a emigração de trabalhadores qualificados europeus chega a 8%. Bem menor que os 42,8% registrados entre os países do Caribe, ou os 16,9%, da América Central – regiões quer perdem sistematicamente sua mão-de-obra especializada para os países desenvolvidos – mas elevado em comparação com os 0,9% da América do Norte ou os 3,3% da América do Sul.
Fonte: O Globo