06/06/2017
Em seis anos, o Brasil perdeu 22 posições no Índice Global de Inovação (IGI), principal indicador de inovação do mundo, elaborado desde 2007 pela Universidade de Cornell (EUA) e a Escola de negócios Insead (França). O país ficou em 69º colocado em 2016, entre 128 países analisados. Para o especialista em inovação aberta global e professor da Insead, Felipe Monteiro, o maior desafio do Brasil é o seu macroambiente econômico, que não estimula o ecossistema inovador das empresas.
“O principal problema é que não adianta investir em inovação em um macroambiente desfavorável. Investe-se em insumos [de inovação], mas eles estão sendo diluídos na ineficiência do ambiente econômico em geral. Pode-se até ter leis específicas para a inovação, mas se essas leis estão inseridas em um contexto em que é tão difícil fazer negócios e em que se tem de gastar muito com o Custo Brasil, os esforços acabam se diluindo”, afirmou.
Na avaliação do professor, uma das principais dificuldades do país está no quesito “instituições”, que envolve questões como facilidade de fazer negócios, abrir empresas e pagar impostos no Brasil. “Por exemplo, em relação à facilidade de negócios, o Brasil está entre os piores do mundo. É um problema que está ruim há muito tempo, tem piorado e precisa ser tratado”, apontou.
Além disso, o desempenho ruim do Brasil em relação a “produtos de inovação” é um dos agravantes para a dificuldade do país em inovar. “O Brasil melhorou ao longo do tempo em termos de insumos de inovação, mas ele não conseguiu transformar esses insumos em produtos de inovação”, destacou.
Para Monteiro, um dos pontos mais preocupante na lacuna entre insumos e produtos de inovação é o quanto o país vem caindo em relação ao índice de eficiência em inovação. O especialista ressalta o Brasil perdeu foco em mensurar os seus resultados no setor. “A aferição e o acompanhamento de resultados e a continuidade no processo é muito importante na criação de um ambiente favorável à inovação. Alguém começa alguma coisa e depois vem outro governo e outra política e não há continuidade nas ações”, ponderou.
Outro ponto, reforça o professor, é pensar que inovação não precisa necessariamente de investimentos vultosos ou de produtos cada vez mais sofisticados. “Muitas vezes as inovações surgem em modelos de negócios, em processos, em mais eficiência e em ser capaz de fazer melhor o que se vinha fazendo antes. A crise abre oportunidades, pois há uma tendência de fazer o mesmo sempre e estar confortável por não ter pressão. Vemos ao redor do mundo que, em ambientes extremamente difíceis, surgem grandes inovações porque as empresas têm de responder a essas dificuldades”, lembrou.
Para isso, Monteiro ressalta que é preciso pensar em economia do futuro e não em economia do passado. “Cada vez mais temos de pensar em uma economia que será transformada pela revolução digital”, avaliou. “Mas o ponto mais importante é que é muito difícil fazer avanços desconectado do mundo. Algo fundamental nesse sentido é fazer com que o sistema de inovação brasileiro esteja inserido no sistema de inovação global”, ressaltou.
(Agência ABIPTI, com informações da Agência CNI de Notícias)