É certo que disseminar as inovações, decorrentes de exigências técnicas do mercado globalizado, é importante para melhorar a competitividade do segmento de micro, pequenas e médias empresas, principalmente no processo de exportação. Mas, são muitos os problemas enfrentados por este segmento para acessar o mercado externo. Segundo Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), a inovação em processos e produtos pode ajudar a solucioná-los. Dados da Abinee revelam que as exportações do setor eletroeletrônico, em 2008, apresentaram crescimento de 6%, mas as importações subiram 33%. Para a associação, é necessário aumentar a competitividade das empresas para superar esses números e evitar as importações. Em entrevista exclusiva à TIC Mercado, Barbato falou sobre a importância da inovação, seja de produtos ou processos, como fator determinante das exportações brasileiras. Falou ainda das dificuldades encontradas pelos microempresários para alcançar o mercado externo, como a falta de uma cultura de inovação. TIC Segundo dados da Abinee, em 2008 as exportações do setor apresentaram crescimento de 6%, mas as importações subiram 33%. O que é necessário para que as exportações superem as importações? Humberto Barbato Para que as exportações superem as importações, há necessidade de um grande incremento na produção de produtos eletroeletrônicos, principalmente de componentes, porque a nossa balança comercial é bastante deficitária em função da falta de produção no Brasil de componentes eletrônicos. Então, para que consigamos com que as nossas exportações superem o volume de importações, é necessário que se desenvolva a indústria de componentes no país. Mesmo assim, para que esse valor seja superado é bastante difícil. Acredito que em dez anos possamos, pelo menos, empatar e não ter um saldo negativo tão importante. TIC No caso das pequenas e médias empresas do setor, quais as maiores dificuldades encontradas nos processos de exportação? Humberto Barbato Na verdade, as empresas encontram dificuldades porque o setor eletroeletrônico é altamente regulado. Além disso, existem as barreiras não-tarifárias em diversos países do mundo, e isso é um fator relevante para que estas possam atuar de forma mais forte nas exportações. Outro fator que vale ser destacado para explicar esses números é que as pequenas e médias empresas são genuinamente brasileiras, que, quando da sua criação, foram designadas para atender ao mercado interno. E ainda não existe a cultura exportadora. Há necessidade de que venhamos a incutir no empresariado a idéia da cultura exportadora. Aqui no Brasil é difícil fazer isso porque temos uma taxa de câmbio volátil. Há épocas em que a taxa de câmbio ajuda as exportações e em outras prejudica, como vinha acontecendo até o início da crise, em setembro do ano passado. TIC Qual a importância da inovação nesse processo de exportação? Humberto Barbato É importante que os empresários entendam que fazer inovação não é fazer algo como descobrir a América. As coisas são mais simples. É preciso apenas mudar a metodologia de trabalho e ter mais certeza e mais vontade de procurar diferentes nichos de mercado. Essas mudanças são as grandes inovações e podem ser feitas dentro das empresas, como a melhoria no produto e no processo produtivo. Há necessidade de inovar, inclusive, no nosso pensamento. Inovação significa buscar mercados externos, porque são nesses momentos de crise que, com coragem e muita inovação, conseguimos superar e vencer num momento delicado, como o que estamos atravessando agora. TIC A inovação garante a competitividade da indústria, fator primordial, principalmente em tempos de crise. Mas, nota-se uma taxa baixa de empresas que utilizam incentivos fiscais, como a Lei do Bem. Como fazer com que as empresas se interessem mais por processos ou produtos inovativos? Humberto Barbato O empresário brasileiro tem uma dificuldade enorme com isso. As empresas que têm mais tempo para pensar em inovação são aquelas mais estruturadas. A pequena e a média empresa brasileira estão estruturadas na figura do patrão, e esse empresário tem de ser bom na área comercial, financeira e de produção. É muito difícil encontrar tempo para tudo isso. Haveria necessidade de que a inovação e a atividade de pesquisa tivessem o acesso facilitado para esse empresário de forma que ele se sentisse estimulado a fazer parcerias com universidades, por exemplo. Mas é difícil porque o próprio tempo do empresário é curto para tantas atividades que é obrigado a exercer em um país como o Brasil, onde a parte burocrática em relação à carga tributaria já toma tempo o bastante. Precisamos superar isso e simplificar uma série de processos para que o dono da empresa possa se dedicar na melhoria contínua do seu processo produtivo e da sua gestão. (Fonte: http://www.odisseu.com.br/ticmercado/Newsletter/51_18fevereiro2009/)
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