23/06/2017
O Brasil corre o risco de inaugurar a nova Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) em março de 2018 e não conseguir mandar pesquisadores para usar os novos laboratórios. De acordo com o coordenador-geral de Oceanos, Antártica e Geociências do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Andrei Polejack, não existem recursos previstos para o lançamento de edital de pesquisa científica para o ano que vem.
Em evento da Frente Parlamentar Mista de Apoio ao Programa Antártico Brasileiro (Proantar), realizado na Câmara dos Deputados, nesta anteontem (21), Polejack ressaltou o trabalho dos parlamentares na garantia de recursos para o programa.
“Foi essa Frente que conseguiu dar apoio para que conseguíssemos avançar com os recursos do Proantar”, lembrou o coordenador. “Um exemplo é o edital de 2009, um marco para as pesquisas no continente, que só foi possível com os recursos alocados por intermédio da Frente. Esse é um programa de Estado, um programa do Brasil”, ressaltou.
A cada ano, cerca de 300 pesquisadores realizam na base estudos ligados aos fenômenos da alta atmosfera, como temperatura e ondas gravitacionais, à dinâmica do buraco de ozônio atmosférico e dos raios ultravioleta, e aos parâmetros atmosféricos de superfície, além de inventários de fauna e flora locais (ambos terrestres e marinhos), qualidade do ar e impactos ambientais locais (contaminação de solos).
A antiga estação Comandante Ferraz sofreu um incêndio em 2012 e, desde então, vêm sendo destinados recursos para a pesquisa brasileira com o suporte das estações de outros países e dos próprios navios da Marinha. Segundo Andrei Polejack, o Brasil é um dos 29 países com direito a voto sobre o futuro do continente antártico, mas uma das condições é a manutenção das pesquisas. Ao todo, 59 países fazem parte do Tratado Antártico.
A nova estação tem 4,5 mil metros quadrados, 2 mil a mais que a antiga, justamente para contar com mais laboratórios. A empresa chinesa que está construindo a estação, ao custo de pouco mais de R$ 300 milhões, deve começar a montar os dois prédios em outubro, no início do verão antártico. “Vão ser 14 laboratórios construídos com uma tecnologia de ponta do que há de melhor no mundo para pesquisa polar. Os equipamentos já estão dentro do contrato. Então a gente está só esperando ficar tudo pronto, a comunidade científica está só aguardando para poder usar os equipamentos e laboratórios”, explicou Polejack.
Entre as pesquisas realizadas no continente antártico, Polejack destaca estudos sobre mudanças climáticas e sobre a biodiversidade local. O chamado fungo azul estudado por cientistas brasileiros pode ser eficaz no combate ao vírus da dengue. Outros organismos que conseguem sobreviver a baixas temperaturas podem ser eficientes no desenvolvimento de produtos para proteção contra raios ultravioleta.
Auxílio
Na avaliação do presidente em exercício da Câmara dos Deputados, Fábio Ramalho (PMDB-MG), a Frente tem o dever de solicitar ao governo federal a destinação de recursos orçamentários para garantir o funcionamento do programa. “Temos que alocar recursos para esse projeto necessário. E todos os anos devemos colocar uma emenda individual para dar continuidade ao Proantar. Nós, parlamentares, também devemos pedir ao governo federal a destinação, ainda para este ano, de mais recursos para o projeto”, afirmou o parlamentar.
Já o presidente da Frente, senador Cristovam Buarque (PPS-DF), ressaltou a necessidade de definir as prioridades para o país. “Esse programa, certamente, é uma delas. [O Proantar] nos permite o desenvolvimento científico e tecnológico estando na Antártica. Contem conosco por recursos, pelo apoio no que for preciso, para que nossa presença na Antártica continue e que possamos, em março, inaugurarmos a nossa nova estação. Com isso, mostrar que saímos de um incêndio para algo muito melhor”, disse o senador.
(Agência ABIPTI, com informações do MCTIC e Rádio Câmara)