01/11/2017
No segundo dia (01/11) da 16ª Conferência Anpei de Inovação, o palco “Meu 1º Negócio” tratou sobre diversos temas que permeiam a transformação da cultura digital, falando desde práticas para inovar processos e produtos em grandes empresas, desafios das mesmas em pensar sobre design estratégico para atender uma nova demanda, até mesmo parcerias entre governos para incentivar a área de CT&I e a importância de políticas públicas que facilitem e incentivem o registro de patentes para aumentar o interesse pela produção científica do país e o poder inovativo das empresas.
As atividades do palco tiveram início com o painel Valor onde o presidente da Anpei, Humberto Pereira, junto do Diretor da Strategy&, José Eduardo Fusaro, lançou oficialmente o Prêmio Valor de Inovação 2018 que contará, novamente, com o apoio da Anpei e abre inscrições no próximo dia 06 de novembro através do site.
“É um prazer dizer que a edição de 2018 contará mais uma vez com o apoio da Anpei que, neste ano, esteve envolvida no processo de pesquisa e estimulou a participação de suas empresas associadas, contribuindo com o crescimento de 20% do número de empresas inscritas em relação ao ano de 2016”, contou Fusaro.
Junto da editora de revistas e anuário do Valor Econômico, Tânia Nogueira Alvarez, Fusaro apresentou como é feito o ranking e quais os critérios utilizados para definir o grau de inovação de uma empresa. Para 2018 o diretor contou que haverá uma novidade nos critérios que hoje se baseiam em três principais: intensão, esforço e resultado.
“Apesar do ranking ser multicriterial, temos os três critérios bases e outros menores, um deles é a citação, que seria como os pares da pesquisa avaliam outras empresas, que já foi incorporado este ano e para o próximo ano incluiremos o critério de número de patentes. Consideraremos as que foram feitas no Brasil e também que tiveram desenvolvimento prioritário no país”, revelou Fusaro.
Em seguida representantes de quatro grandes empresas associadas, que estiveram no top 10 da premiação deste ano, a diretora de P&D da 3M, Camila Cruz; o head of corporate innovation da Embraer, Sandro Valeri, a diretora de segurança do consumidor da Natura, Roseli Mello, e o diretor de relações institucionais e comunicação da Whirlpool, Guilherme Lima foram convidadas para compartilhar suas experiências com as práticas de inovação aberta, processos, planos futuros e todo conhecimento adquirido ao longo de anos, principalmente com relação à dificuldade de incorporar novas tecnologias e processos na cultura da organização.
“Inovar é o pilar fundamental de qualquer empresa, é um processo de longo prazo, é uma jornada e é algo que deve ser compartilhado com todos na empresa. Imaginar que é apenas o jaleco branco [pesquisador], que é responsabilidade apenas de uma área específica é errado. Temos que olhar o sistema como um todo, entender de que maneira outros parceiros da cadeia e de fora dela como nos ICTs e universidades podem ser inseridos no processo”, comentou o diretor de relações institucionais e comunicação da Whirlpool, Guilherme Lima.
Inovação baseada em design
Para inovar, as empresas estão tendo de repensar além dos seus processos, os seus propósitos, muito em função da geração millennial que está mudando totalmente o mercado por conta dos seus novos hábitos. Parte da mudança também é resultado da própria evolução como o aumento da temperatura climática, o fenômeno da urbanização entre outros. Esta foi a grande discussão do painel Design que levou aos participantes a visão de como o design estratégico será crucial para que as grandes empresas comecem a repensar seus processos de inovação.
Leonardo Massarelli, da Questto|Nó, foi quem abriu o debate e expondo alguns dos fatores que trarão mudanças, ainda que forçadas, para o mercado. Um dado que exemplifica isso é que 52% das empresas criadas em 2000 fecharam por não saber se adaptar. Adaptação esta que deve ser cada vez mais rápida e baseada em design estratégico.
“O design estratégico busca inovações olhando para um cenário mais distante e não é trabalhar com pequenos ajustes, é integrar algo novo de verdade e não ter uma reação de descrédito com uma ideia estranha que chegar na sua mesa”, disse Massarelli.
Para o CCO a fragmentação se tornou o grande desafio das empresas para inovar pois, impede a empresa de entregar experiência e pensar no todo. “É complexo porque é necessário trabalhar o todo, o equilíbrio entre marca, produto e serviço. A grande empresa de forma geral é um organismo blindado para continuar no mesmo lugar e todos os mecanismos existem para ela continue no mesmo lugar, entretanto, dado o cenário que vivemos é importante a mudança. O que percebemos é que embora elas sejam grandes navios, elas lançam pequenos botes (startups e outras inciativas) para inovar.
O co-owner da Caleidoscópio, Mario Fioretti, também trouxe para os participantes uma nova visão sobre a inovação nesse momento que vivemos. Com alguns exemplos de empresas como Airbnb, Uber, Nespresso, Whirlpool, Porto Seguro e Snapchat que criaram um novo modelo de inovar atendendo às necessidades dos millennials, Fioretti expos a fragilidade das grandes empresas frente à esses novos negócios que deixam de vender apenas produtos e passam a ofertar a experiência.
“Os novos consumidores não querem carta de habilitação, mas querem mobilidade. Não usam banco, mas ainda fazem transações financeiras. Isso mostra que existe uma necessidade muito grande das empresas mudarem seus propósitos de existir e muitas estão adquirindo empresas de design driver innovattion para serem mais competitivas”, explicou Fioretti.
O modelo de Design Driver Innovattion consiste em identificar oportunidade que pode vir de um problema, observar e entender um comportamento (da pessoa que tem esse problema), explorar como resolver, fazer prototipagem e testar as diferentes alternativas – executando níveis rápidos de correção. Para Fioretti, este modelo sistêmico é responsável por grande parte do sucesso de novas empresas.
Painel França: As Oportunidades da Colaboração entre a França e o Brasil: Inserção do Brasil nas Redes Globais de Inovação
Este painel apresentou aos participantes as inúmeras possibilidades de parceria entre a França e o Brasil para fomentar a inovação. Apesar de tomarem caminhos diferentes no incentivo à inovação, ambos têm uma base bastante parecida e isso foi um dos fatores que facilitou o trabalho conjunto depois de anos estagnado.
O expert técnico internacional em inovação na Embaixada da França no Brasil, Cyrille Munoz, apresentou todo o formato do ecossistema francês e explicou como o país está se programando para se tornar um polo de inovação nos próximos anos com ajuda de pesquisas brasileiras que não tiveram chances com as empresas brasileiras por conta de um modelo que não incentivava a interação ICT-empresa.
“O investimento que o governo fez na França foi entre a indústria e a pesquisa publica. É isso que durante anos fomentamos por lá e já o Brasil preferiu investir na pesquisa privada ou em grandes grupos que estão fazendo pesquisas, além de fomentar mais a pesquisa básica. Foi ai que enxergamos que faltava um meio termo, algo que juntasse o trabalho dos pesquisadores com a indústria no Brasil”, comentou.
Neste painel falou-se muito da intenção da França em ajudar o Brasil a fomentar a colaboração entre indústria e laboratórios de pesquisa públicos para desenvolver resultados de pesquisa e futuramente transformá-los em inovação de fato. No país europeu já existe um programa que cria polos industriais que unem grupos de indústria francesas com universidades e laboratórios públicos para desenvolver pesquisa em áreas prioritárias da França. São 68 polos já criados e recentemente criou-se um equivalente no Brasil, o Agropolo, que funciona em Campinas-SP.
Além disso, o Research and Advanced Engineering Manager at PSA, Emmanuel Hedouin, explicou o funcionamento do Programa de Investimento do Futuro (PIA) que selecionou diversos laboratórios de pesquisa brasileiros de vários setores prioritários do governo francês para receberem incentivos e desenvolverem soluções, entre elas a melhora de motores a biocombustíveis.
“Temos um acordo de 10 anos para desenvolver soluções que melhorem o funcionamento dos motores a biocombustíveis diminuindo a emissão de carbono. Soubemos que a Fapesp tinha um programa de bioenergia e como o grupo PSA da França já tinha excelência em biocombustíveis foi feito um consórcio onde entraram universidades e institutos brasileiros como USP, Unicamp, Instituto Mauá e ITA, cada um com sua especialidade para realizar uma primeira fase de 4 anos. Pudemos aproveitar soluções brasileiras originais como o etanol. E enquanto a universidade se encarregou da pesquisa, os institutos cuidaram da parte prática”
Outra ação do governo Francês é fazer com que as mais de 200 patentes que estão paradas e não tiveram nenhum aporte de indústrias por diversos motivos, sejam novamente apresentadas como soluções de forma simplificada para empresas francesas a fim de formar novas parcerias para desenvolver essas soluções.
“A excelência não é sempre dentro da empresa, ela surge de pessoas que estão saindo das universidades ou também dos empreendedores que montam startups”, disse Munoz.
Painel Propriedade Intelectual: O impacto das ações do INPI no sistema nacional de inovação
O último painel do palco “Meu 1º negócio” trouxe para os convidados uma discussão bastante atual que coloca grandes expectativas na melhoria do sistema de patentes brasileiro. Empresas precisam cada dia mais proteger sua Propriedade Intelectual e a garantia jurídica e diferencial competitivo só acontecem quando conseguem a patente rapidamente, por isso foram analisados os esforços do INPI para suprir essas necessidades e incentivar a pesquisa nas empresas.
A Coordenadora do Comitê de PI da Anpei e Coordenadora de PI da Braskem, Eneida Berbare, foi quem deu início às apresentações e falou sobre o trabalho que o comitê tem desenvolvido este ano, mostrando resultados, próximos passos e também deu uma visão geral do cenário de dificuldade que as empresas enfrentam quando solicitam uma patente e o impacto que isso tem na força da inovação das mesmas.
“O Brasil investe pouco em pesquisa e desenvolvimento, cerca de 1,4% apenas, além disso tem pouco atrativo para indústrias e faltam políticas que aumentem os investimentos privados em pesquisas como simplificação tributária por exemplo. Claro que a empresa que opta pela inovação sabe dos riscos, mas ela depende de um ambiente institucional favorável e atrativo, e políticas de estimulo para continuar inovando e não é isso que acontece, principalmente quando há um grande tempo de espera pela concessão de patentes”, explicou Eneida.
Quando o sistema de propriedade intelectual não cumpre seu papel gera a insegurança jurídica que consequentemente tem um alto custo e trava o avanço das empresas, isso porque a patente pode até ser concedida, mas ela se torna obsoleta pelo tempo que demorou a ser liberada e então trava o desenvolvimento do setor e desestimula o desenvolvimento futuro.
Esse impacto negativo da demora das patentes é sentido não apenas pelas empresas, como também pelos institutos de pesquisa e universidades como a PUCRS, que esteve também no painel representada pela diretora do Escritório de Transferência de Tecnologia da PUC/RS, Marli Elizabeth Ritter dos Santos.
“Grande parte dos recursos de investimento em P&D da PUC vem de recurso privado e são as empresas que nos buscam atrás de inovações, mas elas não querem patentes antigas, porque pensam que é uma inovação muito velha e isso faz com que os pesquisadores corram pra registrar isso fora do país e é grande problema”, comentou Marli.
Milenne Garcia Michels, coordenadora de PI da Ourofino, falou sobre os projetos de inovação aberta da empresa e quais os caminhos dela para registrar as patentes e os riscos que a empresa corre quando há uma demora tão grande na concessão. Além disso, ela contou como a empresa faz para continuar inovando, ainda que com um ambiente tão desfavorável como o incentivo na forma de premiação para que os colaboradores continuem gerando inovação, além de dar o direito deles constarem como inventores.
A última participação ficou por conta do presidente do INPI, Luis Otávio Pimentel que apresentou o planejamento e as melhorias que já foram e que serão implantadas. O esforço dos últimos dois anos aumentou em 70% a produtividade do instituto, que antigamente tinha apenas 40% dos colaboradores trabalhando na área de exames e hoje já são 70%.
“Avançamos no registro de marca, saímos de 40 meses de exames marca e já estamos em 36 meses, queremos chegar em 18 meses, que é a meta. Até 2020 pretendemos levar apenas 6 meses analisar marca”, conta o presidente.
“Na área de contrato fizemos uma verdadeira revolução. Talvez o tema mais impactante para sistema nacional de inovação seja a área de patentes, que tem cerca de 228 mil pedidos na fila uma capacidade operacional bastante reduzida, mas bastante melhora já tendo em vista que tínhamos 200 examinadores agora temos 350. Entram cerca de 30 mil pedidos por ano, mas permanece em aberto uma solução para esse estoque, o próximo concurso talvez aconteça em 2020, e aí são mais 18 meses de treinamento. Não é um horizonte pessimista, mas é então tudo se ajeitaria somente em 2021 e o que fazemos nos 4 anos? É isso que estamos pensando ainda”, explicou o presidente.
Para melhorar os processos de socialização da informação tecnológica, as informações contidas nos documentos do INPI são digitalizadas, entretanto restam 510 mil que não estão digitalizadas. Um recente acordo permitirá que o instituto se livre de 8 milhões de folhas, serão 150 pessoas revisando tudo por 14 meses.