Brasil fica de fora do mapa global de pesquisa e desenvolvimento
Quando as multinacionais planejam onde alocar seus dólares de pesquisa e desenvolvimento, o Brasil raramente é uma das opções à mesa. Falta de condições adequadas para esse tipo de investimento? Sim, mas apenas em parte.
O principal vilão dessa história é antes uma questão de imagem – ou marketing – do que um problema concreto. Poucas empresas associam o país a um destino propício para seus esforços de P&D. Essas são algumas conclusões de um estudo conjunto da consultoria Booz Allen Hamilton e a Insead, uma escola de administração com presença na Europa, Ásia e Estados Unidos.
O trabalho é baseado em entrevistas com 186 companhias de 19 países e 17 setores, cujas despesas anuais de P&D somaram US$ 76 bilhões em 2004. Os dados foram coletados ao longo de 2005 e acabam de ser tabulados.
“O Brasil precisa encorajar as empresas a investir uma parcela maior de seu orçamento de pesquisa no país”, afirma Steven Wheeler, vice-presidente sênior da Booz Allen. “Isso não ocorre por simples desconhecimento.”
Segundo o executivo, o Brasil tem menos restrições legais e regulatórias do que a China, e possui um mercado interno maior que o da Índia. Os gargalos de infra-estrutura não são piores do que os encontrados em outros países emergentes. A estabilidade política e a ausência de envolvimento em conflitos internacionais também são vantagens.
Apesar disso, o trabalho mostra que foram China e Índia que se tornaram os grandes ímãs para os investimentos de P&D. Juntos, os dois países detêm 13,9% dos centros de pesquisa e desenvolvimento de multinacionais. Em 1990, a participação conjunta era de 3,4%. Nos últimos 30 anos, a presença de centros de pesquisa longe das sedes das companhias cresceu de 44% para 66%.
O trabalho mostra não apenas que China e Índia foram os principais beneficiários dessa tendência, mas que devem ganhar ainda mais com isso: 77% dos novos centros de P&D planejados até 2007 serão erguidos em um dos dois gigantes asiáticos. Até o final de 2007, ambos terão 31% da força de trabalho mundial de P&D. Em 2004, tinham 19%.
Parte da explicação para o fato de o Brasil não figurar entre as localidades que estão atraindo investimentos em pesquisa é o fato de o mercado nacional não ser referência em nenhum ponto específico para isso. Assim, o Brasil possui profissionais qualificados de baixo custo — vantagem citada por 11% das empresas entrevistadas -, mas perde nesse critério para a Índia (30%), China (24%) e Leste Europeu (23%). O mercado interno atrativo é lembrado por 25%, mas fica abaixo de China (30%) ou países desenvolvidos como o Japão (39%).
Wheeler acredita que uma análise balanceada do Brasil deveria colocar o país em uma posição mais confortável, mas nem sempre as empresas tomam esse cuidado.
“Por isso investir em marketing é importante”, diz. “No Fórum Econômico Mundial, em Davos, a Índia gastou milhões para se promover como um bom destino para investimentos junto aos altos executivos que estavam presentes.”
A maior parte dos gastos de P&D que se deslocam para países emergentes, contudo, não está relacionada a desenvolvimento de ponta. Cerca de 75% das empresas têm capacidade de criar suas tecnologias-chave junto a suas sedes. Em contrapartida, 55% dos centros de pesquisa alocados em outros países fazem apenas adaptações ou possuem conhecimento em uma área específica. Wheeler acredita que as multinacionais precisam criar verdadeiras redes mundiais de pesquisa e distribuir melhor os trabalhos entre as subsidiárias.
Fonte: Valor Econômico