06/02/2017
A primeira reunião de 2017 do Comitê Temático da Anpei sobre Interação entre Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs) e Empresas reuniu um renomado time de especialistas – tanto de ICTs, quanto de grandes empresas – para debater Indústria 4.0 – panorama atual, estratégias e planejamentos para o futuro no Brasil. Profissionais da Bosch, Embraer, Unicamp, SENAI, CESAR e Pieracciani apresentaram suas experiências sobre o tema e promoveram uma mesa redonda muito produtiva para os membros do Comitê. O encontro, mediado pelo coordenador do Comitê, Leonardo Garnica, e pela vice-coordenadora, Patrícia Leal Gestic, aconteceu no dia 2 de fevereiro na sala de treinamento da Anpei, em São Paulo – SP, e também contou a presença do diretor padrinho Sebastião Nau e da diretora madrinha Sayonara Moreira.
“Nossa motivação foi atrair para o Comitê um debate sobre Indústria 4.0, em formato de mesa redonda, para que diferentes atores pudessem compartilhar suas experiências e desafios, além de promover networking entre os associados, oportunidades de interação e parcerias e estratégias futuras via Anpei”, apontou Patrícia Leal Gestic.
O dia teve início com a participação de Fábio Fernandes, engenheiro sênior de automação da Bosch, que apresentou os quatro pilares da Indústria 4.0 – protocolos abertos, sistemas cyber-físicos, segurança da informação e inteligência distribuída.
Segundo ele, a Indústria 4.0 se traduz na integração entre a tecnologia da informação (TI) e a indústria. “Trata-se da união desses dois mundos e o ser humano está no centro de tudo isso. O conhecimento e a informação são as novas matérias-primas da Indústria 4.0, que colaboraram para maior eficiência e competividade das empresas”, disse Fábio.
Após a participação da Bosch, a professora Dra. Ieda Makiya, da Unicamp, apresentou o Laboratório de Negócios Sustentáveis da universidade, seus parceiros nacionais e internacionais, projetos e alguns resultados. Para ela, “a Indústria 4.0 não se refere apenas à aplicação de novas tecnologias, mas também de uma nova operação para garantir resultados positivos”.
Logo em seguida, continuando a participação da Unicamp, o pesquisador colaborador Dr. Francisco Giocondo realizou uma exposição mais conceitual sobre Indústria 4.0. Na ocasião, ele apresentou características desde a 1ª até a 4ª revolução industrial, pela qual estamos passando atualmente com a evolução dos sistemas inteligentes.
“Atualmente, a Indústria 4.0 não influencia apenas a indústria, mas também a vida das pessoas, avançando para áreas de saúde e agricultura, por exemplo”, ressaltou o pesquisador Giocondo.
O professor Dr. Herman Lepikson, diretor do Instituto Senai de Inovação (ISI), também expôs dados interessantes sobre o cenário no qual a Indústria 4.0 se insere. “30% dos empregos atuais não existiam há 10 anos, e 65% das crianças de hoje estarão em empregos que não existem hoje”, apontou Lepikson, que também apresentou projetos em manufatura avançada do ISI em parceria com empresas como a Ford, a Embraer e a Petrobras, por exemplo.
Ao apresentar o case da Embraer, Carlos Lyra, engenheiro de desenvolvimento de processos da fabricante de aviões, explicou como a empresa está se tornando uma Indústria 4.0. “A princípio as simulações de processos, que tiveram início há mais de 15 anos, eram realizadas de maneira isoladas. Atualmente, a Embraer atua com uma fábrica digital, na qual a simulação dos processos é totalmente integrada”, exemplificou Lyra.
Já Ronald Dausha, consultor da Pieracciani, destacou o conceito de customização em massa durante a reunião do Comitê de Interação ICT-Empresa. De acordo com essa característica da Indústria 4.0, atualmente o consumidor define os benefícios dos produtos, e as empresas estão produzindo itens cada vez mais customizados de acordo com as necessidades dos seus públicos.
Para finalizar o período da manhã, o executivo chefe de negócios do CESAR (Unidade Embrapii para Industria 4.0 e produtos conectados), Eduardo Peixoto, apontou que a inovação é o resultado da interação entre “Gente, Negócios e Tecnologia”, exemplificando esse processo com a tendência do compartilhamento de produtos. “A crescente capacidade dos produtos inteligentes e conectados não só dá nova forma à concorrência dentro das indústrias, como também expande os limites delas”, disse Peixoto.
Educação e Política Industrial
Após o almoço, a reunião teve continuidade com um grande debate entre os palestrantes que apresentaram suas experiências pela manhã e os participantes do encontro.
Um dos pontos debatidos nesse momento foi educação. Tanto para os representantes das ICTs, quanto para os das empresas, falta uma formação interdisciplinar para a eficiência da Indústria 4.0. “Para o Brasil ser protagonista em Indústria 4.0, é necessário repatriar os pesquisadores que estão fora do país e fomentar a vinda de cientistas estrangeiros e de polos de pesquisa, desenvolvimento e inovação”, apontou Fábio Fernandes da Bosch.
A criação de uma política industrial no Brasil também foi tema da mesa redonda. “Falta planejamento. Precisamos identificar os setores nos quais o Brasil é competitivo. Falta uma política industrial, pois estamos atrás de países que trabalham com plataformas de Indústria 4.0.”, disse a professora Ieda.
“Cabem às associações, como a Anpei e a CNI, por exemplo, o papel de catalizadoras dessas necessidades e de atuar como porta-vozes para o governo. Não podemos trabalhar isolados”, ressaltou o pesquisador Giocondo.
Ao finalizar o debate, o coordenador do Comitê apontou que esses pontos serão estudados e transmitidos para a diretoria da Anpei. “Educação e estratégia são os principais rumos da Indústria 4.0. Aprendemos muito hoje, aqui”, concluiu Leonardo Garnica.
De acordo com a vice-coordenadora, a próxima reunião do Comitê de Interação ICT-Empresa será realizada em conjunto com o Comitê de Gestão da Propriedade Intelectual no dia 7 de março, na Bosch, em Campinas. “O tema central serão os desafios de tecnologias disruptivas com ênfase nas Impressoras 3D”, informou Patrícia Leal Gestic, que, em outubro do ano passado, participou de uma missão da FAPESP ao USPTO (United States Patent and Trademark Office) e sua Academia (The Global Intellectual Property Academy of USPTO) e compartilhará, juntamente com outros especialistas, a abordagem recente do impacto da impressora 3D.