Empresários e governo discutem inovação
Empresários e governo ainda não entraram em sintonia sobre o processo de inovação no Brasil, e como fazê-lo se tornar realidade. Mas se o debate continua por vezes tenso, e muitas questões estão por ser resolvidas, mesmo passados cinco anos desde o início das discussões sobre a Lei de Inovação, fica claro também que as diferenças de opinião sinalizam uma convergência de propósitos.
A afirmação pode não estar na ponta da língua de todos, mas resume as opiniões dos participantes da mesa-redonda “Percepção, pelas empresas, das políticas públicas de apoio à inovação”, realizada no segundo dia da VI Conferência Anpei. “A própria situação é complexa, de transição entre o novo e o arcaico; este já está em agonia”, disse Evando Mirra, da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
De um lado, representantes das empresas, como Rodrigo Loures, presidente da Federação das Indústrias do Paraná, Roberto Nicolsky, da Protec, Maurício Mendonça, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Hugo Borelli Resende, novo presidente da Anpei. De outro, além de Mirra, Reinaldo Danna, do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Eliane de Britto Bahruth, da Finep, Aluísio da Motta Asti, do BNDES, e o embaixador Roberto Jaguaribe, do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Há o entendimento de que inovação é o caminho obrigatório, e o objetivo é garantir a competitividade do Brasil, como afirmaram Loures e Nicolsky. Uma das prioridades para que a inovação realmente aconteça é equipar as empresas com programas de Pesquisa e Desenvolvimento, segundo Borelli. “Sem isso, não adianta termos a formação de doutores ou uma legislação adequada.” Já aprendemos, diz ele, a transformar dinheiro em conhecimento. Agora é hora de aprender a transformar conhecimento em dinheiro, para que seja possível criar um círculo virtuoso. E também não nos restringirmos ao mercado brasileiro. “É preciso sair desse vício, de que o mercado brasileiro é suficiente,” continua. “Mercado bom é o mundo.”
CONVERGÊNCIA – Um tanto atrasados na implantação do sistema de inovação, precisamos correr e pular para a terceira fase, na qual se encontram os países nórdicos, por exemplo, que expandem o conceito de inovação e ela passa a ser centro de políticas públicas como um todo, segundo Mendonça. Mirra também é de opinião de que a Lei de Inovação já está arcaica. “Mas eu defendo o investimento intenso em sua utilização”, disse.
Na opinião de Danna, apesar de ainda haver empecilhos, o processo atrai cada vez mais adeptos e já modificou o teor das discussões entre governo e empresários. E se há reclamações de que o governo é muito moroso em fazer sua parte, a questão está na incompetência dos marqueteiros do próprio governo, que não divulgam corretamente o número de empresas beneficiadas por seus programas de apoio e incentivo, com o que concorda Eliane.
Apesar dos avanços, na opinião de Motta continua faltando entrosamento com representações empresariais, a fim de estabelecer programas mais efetivos e adequados, saindo das generalidades. Mas uma coisa é certa, salienta Jaguaribe: “Temos uma proposta de política e convergência de opiniões para que ela exista. Isso não acontecia há dez anos.”