Inovação tecnológica foi tema presente na 58º Reunião Anual da SBPC
A inovação tecnológica foi um dos temas presentes na 58ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada no câmpus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, entre os dias 16 a 21 de julho. O assunto foi objeto de palestras, debates e simpósios, além de uma exposição, que ocorreram durante todo o evento. Abaixo um pouco do que se falou da inovação da reunião da SBPC:
DEBATE
No discurso de abertura da 58ª reunião anual da SBPC, o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, ressaltou os avanços que foram feitos nos últimos anos para mudar a cultura conservadora do empresariado brasileiro no incentivo à inovação tecnológica. Ainda na pauta de discussão da Reunião, o tema foi abordado em outro debate aberto, sob o título “Política de inovação e os sistemas estaduais de fomento à C&TI”.
A discussão abordou questões, como a necessidade de se criar um modelo nacional de parques tecnológicos, estabelecer mudanças na formação acadêmica, efetivar alterações nos marcos regulatórios e, principalmente, incentivar a inovação envolvendo os diversos atores interessados, respeitando as diversidades regionais.
SINAL POSITIVO
O diretor da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Evando Mirra, destacou, na conferência sobre o tema Tecnologia, como um sinal positivo a incorporação da interdisciplinaridade, tecnologia e inovação na pauta da Reunião da SBPC deste ano. Ele observou que essas áreas estão indissoluvelmente ligadas.
Para Mirra, criar um objeto tecnológico é um jogo. “Inovação é uma mudança nas regras desse jogo”, disse. “Implica mudança de atitude, de olhar.” De acordo com ele, ciência e tecnologia formam um par que dança enlaçado ao som da mesma música. Técnica é um hábito que se adquire culturalmente, acrescentou.
Segundo ele, a cultura da inovação responde por metade do PIB nos países desenvolvidos. O conhecimento é a nova forma de riqueza das nações. Ele citou a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), segundo a qual investimentos crescentes em conhecimento são o vetor chave do desempenho econômico e estão associados à emergência de uma sociedade mais interconectada (networked), onde criação e aplicação do conhecimento tornam-se cada vez mais colaborativos.
ENTRAVES
Os entraves e as dificuldades de se inovar no Brasil e o êxito da Embraer foi o tema de uma palestra do engenheiro Ozires Silva. Um dos fundadores e ex-presidente da Embraer, Silva está por trás do sucesso da empresa fundada em 1969. Para ele, as imposições feitas pelos dirigentes da então estatal ao governo, de gerar produtos próprios com tecnologia própria e ter o controle das vendas, foram determinantes para o seu posicionamento no mercado.
Apesar das conquistas da Embraer, Ozires apontou uma série de entraves que emperram a inovação brasileira. Uma delas é o emaranhado jurídico brasileiro. Segundo ele, a burocracia brasileira bate todos os recordes. Enquanto em um país desenvolvido uma empresa é criada em um dia, no Brasil, leva 150.
Além disso, o país não criou formas de cobrir os custos dos investimentos para transformar o conhecimento científico e tecnológico em produtos novos. A legislação brasileira não permite que se empreste dinheiro correndo risco. Em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, o poder de compra dos governos tem se constituído em importante alavanca para o desenvolvimento econômico. No entanto, o governo brasileiro não utiliza esta ferramenta para estimular e impulsionar a inovação no país.
Por essas e outras razões, o Brasil está fora do sistema de inovação mundial e excluído no processo de globalização. Para reverter este quadro, Ozires afirmou que o país precisa desenvolver, com urgência, um projeto de nação.
PATENTE
A funcionalidade de uma patente não deve ser utilizada para remunerar pesquisadores: se os benefícios por ela gerados forem destinados apenas a interesses particulares, a pesquisa brasileira pode estar com seus dias contados. A opinião é de Denis Borges Barbosa, coordenador do Grupo Institucional de Pesquisa em Propriedade Intelectual e Interesse Público da Faculdade de Direito, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Ele disse não ver problema em licenciar patentes para a indústria nacional de graça. Ao hipotecar o interesse público e destinar o retorno do dinheiro pago pelo contribuinte para um único pesquisador está se privatizando o conhecimento. Segundo ele, isso é acabar com a capacidade pública de atuar em benefício do crescimento econômico.
Para Barbosa, no depósito de uma patente os gestores responsáveis pelo registro devem ficar atentos se o interesse é corporativista ou público. Ele disse, que os próprios pesquisadores devem se perguntar: estou nessa para me dar bem ou para cumprir uma função social em benefício do país?
ExpoT&C
A Exposição de Tecnologia e Ciência (ExpoT&C), realizada no Centro de Desportos da UFSC, foi um dos espaços mais movimentados da Reunião. Empresas públicas e privadas, órgãos governamentais e de fomento e instituições de ensino e pesquisa apresentaram produtos e projetos inovadores na área de ciência e tecnologia.
Ao todo, a ExpoT&C reuniu cerca de 60 expositores, vindos de várias regiões do país e que atuam em áreas bastante diversificadas, como biotecnologia, geração de energia – elétrica e nuclear -, robótica, refrigeração e engenharia química. Além disso, todos os dias ocorreram encontros abertos, nos quais empresários e pesquisadores relataram suas experiências na área.
Com informações da Agência Fapesp, do JC e-mail, da Assessoria de Comunicação do CTC/UFSC e MCT.