“A ANPEI tem grande potencial para apoiar a colaboração
entre Brasil e Coréia”, diz executivo da KOITA.
Seung-Hyun Son, gerente do departamento de Cooperação Internacional da Associação Coreana de Tecnologia Industrial (KOITA), acredita que a ANPEI poderá fazer a intermediação entre empresas brasileiras e coreanas com interesses comuns. Essa é a segunda vez que Son vem ao Brasil. Em 2002, o executivo coreano proferiu uma palestra na conferência anual da ANPEI e agora veio participar da assinatura de acordo de cooperação entre as duas associações e do I Simpósio de Ciência e Tecnologia Brasil-Coréia, ambos realizados em Brasília no dia 7 de julho. Na primeira ocasião, não saiu do hotel onde ocorrera o evento em São Paulo, mas agora irá conhecer Manaus junto com a delegação coreana formada por executivos da KOITA e por membros do Ministério da Ciência e Tecnologia da Coréia.
Nesta entrevista, Son fala das expectativas da entidade coreana com o acordo de cooperação firmado entre KOITA e ANPEI e do modelo bem-sucedido de inovação tecnológica adotado pela Coréia.
A KOITA mantém um contato próximo com organizações de várias partes do mundo. O que o senhor espera do acordo de cooperação firmado entre a entidade e a ANPEI?
Seung-Hyun Son – A KOITA e a ANPEI têm um objetivo comum, que é o de promover a inovação da indústria e seu desenvolvimento tecnológico. Elas podem realmente ajudar as empresas a crescer e tornar seus países melhores. O governo da Coréia pensa no Brasil como seu principal parceiro do século 21 e a ANPEI tem um grande potencial para apoiar esse tipo de colaboração entre os dois países. Por essa razão, nós da KOITA acreditamos que é importante firmar esse acordo formal com a ANPEI.
O que a KOITA pode oferecer à ANPEI e que tipo de benefícios a entidade espera receber da associação brasileira?
Son – O Brasil considera a Coréia um exemplo bem-sucedido de país que conseguiu, em um curto período de tempo, deixar de ser pobre e se transformar numa nação rica graças ao desenvolvimento tecnológico. Eu acredito que a KOITA pode compartilhar com a ANPEI a sua experiência de como construir competitividade industrial, estimulando a capacidade de pesquisa e desenvolvimento das empresas privadas. E esperamos receber apoio da ANPEI quando o governo ou as empresas da Coréia quiserem estabelecer relações, investir no Brasil. A ANPEI poderia ser o ponto central desse relacionamento.
Quais áreas de pesquisa e desenvolvimento no Brasil interessam às empresas e ao governo coreano?
Son – A Coréia tem grande destaque nas áreas de tecnologia da informação e da indústria automobilística, entre outras, enquanto o Brasil é forte em biotecnologia e tecnologia espacial. São essas as áreas nas quais podemos trabalhar juntos e aprender com o seu país. Nosso foco está voltado para as áreas em que não somos tão bons agora, mas que no futuro pretendemos ter excelência.
Que tipo de benefícios empresas brasileiras podem obter com o acordo de cooperação?
Son – Se, por exemplo, uma empresa brasileira for à Coréia para fazer negócios com o governo, ou com os centros de pesquisa das empresas, a KOITA pode ser a mediadora e apoiar quaisquer encontros das empresas brasileiras. Isso porque a Coréia estabeleceu um pacote de incentivos para todas as empresas que desejam fazer negócios no nosso país e a KOITA particularmente é uma organização importante nas áreas de pesquisa e desenvolvimento industrial.
Do total de indústrias na Coréia, quantas delas fazem inovação tecnológica freqüentemente?
Son – Existem cerca de 100.000 indústrias na Coréia. Dessas, 11.000 têm seus próprios centros de P&D. É um indicativo de que as empresas coreanas realmente acreditam na importância de desenvolver pesquisa para apoiar a produção das fábricas.
Hoje são 11.000 centros de P&D, mas em 1979 a Coréia contava com apenas 43 deles nas empresas. Quais foram as ações realizadas pela KOITA e pelo governo para as empresas sul-coreanas darem esse salto em P&D?
Son – Em 1991, quando a Coréia ainda estava numa fase inicial de pesquisa e desenvolvimento e não tinha muitas atividades de pesquisa sendo desenvolvidas por empresas privadas, o governo editou a Lei de Tecnologia e Promoção do Desenvolvimento. A lei estabeleceu uma série de benefícios fiscais para empresas criarem seus centros de P&D (isenção e/ou redução de imposto de renda, taxas municipais, sobre propriedade). A lei também permitiu que jovens estudantes coreanos [especialmente de cursos de ciências e engenharia] fossem liberados do serviço militar obrigatório em troca de trabalho durante quatro ou cinco anos nos centros de pesquisa das empresas. Acredito que esse foi o momento da virada, quando as empresas pensaram: ok, nós temos que fazer P&D! A partir daí, o número de centros P&D nas indústrias cresceu enormemente.
Houve outro grande momento de crescimento desses centros: foi em 1997, quando a crise econômica da Ásia afetou bastante a economia da Coréia. O governo então decidiu estimular a pesquisa e desenvolvimento nas pequenas empresas e foram criados 5.000 centros de P&D em cinco anos! Esse salto ocorreu, primeiro, pela iniciativa do governo e, segundo, por mérito das empresas, pois acreditam que a inovação tecnológica é muito importante para o sucesso de seus negócios. E a KOITA estava no meio de tudo isso intermediando o contato entre o governo e indústria.