Anpei e ABDI: parceria para atrair centros mundiais de P&D
Com o objetivo de atrair os centros de pesquisa e o desenvolvimento (P&D) das empresas transnacionais para o País, a ANPEI e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) assinaram, em 13 de dezembro, um contrato de prestação de serviços para a elaboração do projeto “Atratividade do Brasil para centros de P&D mundiais”. Os estudos serão executados pela Anpei, num prazo de seis meses, e fornecerão as bases em que o País deverá atuar para sensibilizar as empresas transnacionais.
O documento foi assinado pelo presidente da Anpei, Hugo Resende, e pelo diretor da ABDI, Evando Mirra. “A Anpei está trabalhando com muito vigor para a estruturação da P&D nas empresas”, disse Resende, no ato da assinatura, que ocorreu durante o seminário “Inovação Tecnológica e Segurança Jurídica”, realizado na sede Fiesp. “Isso inclui a transformação do Brasil num país atrativo para os centros de P&D das empresas transnacionais.” Para Mirra, o acordo é mais um passo colaborativo com a Anpei. “É um projeto de grande envergadura, que tem grandes expectativas de tornar o Brasil atraente para a P&D”, declarou.
Com a parceria, o Brasil começa a se preparar para disputar com Índia, China, Taiwan e Cingapura a preferência das empresas transnacionais. Entre os pontos a serem abordados no projeto “Atratividade do Brasil para centros de P&D mundiais” estão a identificação, junto às filiais de empresas transnacionais instaladas no Brasil, de oportunidades e interesses em investir em pesquisa e desenvolvimento no País; a estruturação de informações sobre recursos e benefícios disponíveis (qualificação da mão-de-obra, fontes de financiamento para inovação, base científica, etc.) e a identificação de barreiras e pontos desfavoráveis ao desenvolvimento de projetos de P&D das empresas transnacionais.
Além desses, o projeto tem ainda como objetivo conhecer áreas e processos de decisão e fatores de sucesso para investimentos em P&D em companhias transnacionais; identificar as ações desenvolvidas por outros países na atração de investimentos nessa área de empresas transnacionais, e promover o Brasil e seu potencial para a realização de atividades de P&D. Buscará, também, estabelecer diálogo público-privado relativo ao tema investimentos em P&D de multinacionais e estruturar e operacionalizar rede de contatos de profissionais brasileiros no exterior.
Preferência oriental
O Brasil tem condições para exercer essa atratividade (custos comparáveis com países competitivos, posicionamento geográfico, biodiversidade, recursos humanos capacitados etc), mas nunca contou com uma política estruturada sobre o tema. Com isso, está perdendo terreno para países asiáticos que se prepararam para abrigar centros mundiais de P&D e vêm contando com a preferência das empresas. Estudo recente realizado pela Anpei (“Inovação Tecnológica no Brasil – A industria em busca da competitividade global”) mostra que, depois de a Motorola ter estabelecido seu centro de P&D na China, em 1993, mais de 700 centros estrangeiros foram instalados nesse país.
Na Índia, somente a General Electric emprega 2.400 pessoas em P&D em áreas como produtos para aeronaves, bens de consumo duráveis e equipamentos médicos. Companhias farmacêuticas como Astra-Zenica, Eli Lilly, Novartis e Pfizer realizam pesquisas na Índia. “Em relação ao desenho de semicondutores, se a Ásia não desenvolvia quase nada até meados dos anos 1990 – Japão e Coréia eram as exceções -, a região foi responsável, em 2002, por quase 30% do total dessa atividade no mundo”, destaca o estudo. “Entre 2002 e 2004, dos 1.773 projetos de multinacionais envolvendo P&D internacional, cerca de metade (861) foi para países da Ásia e Oceania”.
Por outro lado, na América Latina os investimentos das multinacionais em P&D destinam-se sobretudo à adaptação dos produtos aos mercados locais, a chamada “tropicalização”. “Brasil e México têm alguns exemplos que fogem a essa regra, mas em geral se encaixam perfeitamente nela”. Uma das raras exceções é GM brasileira, que compete com outras subsidiárias do grupo norte-americano pelo direito de projetar e construir novos veículos e de realizar atividades que fazem parte do core-business da empresa global.
Pesquisa da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento) mostra que a China é o destino mencionado pelo maior número empresas (72,1%) para futuras expansões em projetos de P&D. Os EUA vêm em segundo (41,2%), a Índia em terceiro (38,4%) e o Japão em quarto (14,7). O Brasil aparece em 19º lugar, com 1,5% de atratividade.